A Essência do Amor
A fragilidade do amor
Terrence Malick é um
cineasta muito especial. Sensível, poético e filosófico o seu cinema não agrada
a todos mas jamais desilude quem se reveja nas suas questões existenciais, na constante
procura de pontos de ligação na relação do homem com o universo. E «A Essência do Amor»[2012] não foge a
isto, procurando demonstrar a permanente necessidade do amor no ser humano mas
também a fragilidade desse sentimento voraz capaz de fazer os homens e mulheres
os seres mais felizes mas também os mais infelizes do planeta. E não é por
acaso que no filme, num momento de paixão a voz que é muda mas que se ouve no
nosso cérebro, porque é íntima, porque nos pertence como indivíduos, sussurra “levantaste-me do solo”. Isto é,
fizeste-me pairar, fizeste-me tornar num ser leve, feliz, levaste-me a
acreditar em ti e no amor, na vida. E ao invés, quando termina uma das duas
paixões que servem de objecto para a reflexão de Malick, a personagem de Jane
[belíssima Rachel McAdams] põe toda a sua mágoa na frase que, grosso modo, diz “confiei em ti mas agora tiraste-me tudo,
afinal eras apenas um sonho, não, não és real, não existes mais”. E não há certamente
maior amargura em matéria de sentimentos que negar a existência de um amor que antes
parecia querer ficar para sempre na vida de dois amantes.
Há outra constante no
cinema do homem que nos trouxe, entre outros, «A Barreira Invisível»[2008] e o mais recente «A Árvore da Vida»[2011]: a natureza, a natureza mais selvagem e a
edificada pelos tempos. Porque o ser humano é parte integrante dessa mesma
natureza ainda que questionemos permanentemente os seus mistérios por mais
insondáveis que se afigurem. E nessa maravilha visual que é o cinema de Malick,
nesse jogo de luzes e sombras, de delicadeza e sensibilidade, a inquietude é uma
constante e o sonho confunde-se insistentemente com o pesadelo. Em «To The Wonder», no seu título
original, Marina [Olga Kurylenko] apaixona-se em França por Neil [Ben Affleck]
e segue-o por duas vezes até à América. Mas como a orgânica do amor é outro dos
mais guardados segredos da natureza humana, as coisas nem sempre decorrem de
acordo com esse maravilhoso sentimento. Entretanto, nas imediações de ambos um
padre [Javier Bardem] afunda-se na sua falta de crença, na incapacidade que o
consome de compreensão para os dramas humanos que o ladeiam não vislumbrando Deus
não só na forma de ajudar a minorar essas tragédias como na sua génese.
Já o disse aqui. O
cinema de Terrence Malick é eminentemente filosófico, poético, contemplativo. E
procura quebrar com aquilo que são as noções universais que temos da vida
desafiando o convencionalismo e desmontando preconceitos. E isto tudo para nos
dizer, acredito, que a natureza está acima das convenções do homem e não existe
felicidade se não seguirmos o nosso instinto ainda que em algumas ocasiões
venhamos a concluir que estávamos errados. Quanto a este «A Essência do Amor», na minha opinião resultaria num filme
perfeito se algum do minimalismo das suas histórias pudesse ser trocado por um
pouco mais de realismo naquilo que nelas existe de hipnótico. Mas, admito,
Malick não é isso, não é um realista. Terrence Malick é, para o bem e para o
mal, cada vez mais um impressionista.
«To The Wonder»,
de Terrence Malick, com Ben Affleck, Olga Kurylenko, Rachel McAdams e Javier
Bardem