«A Pilar, que ainda não havia nascido e tanto tardou a chegar.»
Antes de qualquer outra observação, devo realçar o quão gratificante é ver chegar às salas de cinema do vulgar circuito comercial uma obra documental como «José & Pilar», numa realização de Miguel Gonçalves Mendes. A equipa do realizador português acompanhou o quotidiano do casal José Saramago e Pilar del Río durante três anos [entre 2006 e 2009] criando uma visão nova e objectiva, desprovida de juízos de valor, sobre o único Nobel português da literatura. Um filme que chega ao público quando as persianas da vida já há algum tempo se fecharam sobre o escritor, o que confere à obra um cariz ainda mais vincadamente emocional. E mais gratificante ainda é ver como o público português aderiu a um retrato filmado que revela uma relação que se agigantou num amor puro e verdadeiro e demonstra ainda uma enorme sensibilidade ao desvendar em Saramago um homem extremamente lúcido e carinhoso desfazendo com isso a imagem de pessoa arrogante que o acompanhou desde que chegou ao topo.
Saramago foi um escritor de enorme sucesso e um homem de vida cheia, daquelas vidas que normalmente apenas habitam os livros. E quando conheceu, aos 63 anos de idade, aquela que viria a ser a mulher da sua vida, a jornalista espanhola Pilar del Rio, uma nova vida se abriu sobre o homem e escritor numa relação que duraria até à sua morte, já em Junho deste ano. E é sobre esse grande amor, sobre a vida do escritor com a sua mulher, que se centra o documentário apropriadamente intitulado «José & Pilar». Filmado sobretudo na ilha de Lanzarote onde o casal construiu o seu lar mas também nas imensas viagens a que o escritor se via obrigado por não saber dizer não aos imensos convites que recebia, o que vemos desfilar na tela é o lado real mas intensamente emocional de um amor que nasceu a partir da busca de uma jovem mulher por um homem grande na sua arte e se foi construindo nas pequenas coisas do dia-a-dia, na intimidade de dois seres humanos que se entregaram profundamente ao amor que os unia.
Saramago foi um escritor de enorme sucesso e um homem de vida cheia, daquelas vidas que normalmente apenas habitam os livros. E quando conheceu, aos 63 anos de idade, aquela que viria a ser a mulher da sua vida, a jornalista espanhola Pilar del Rio, uma nova vida se abriu sobre o homem e escritor numa relação que duraria até à sua morte, já em Junho deste ano. E é sobre esse grande amor, sobre a vida do escritor com a sua mulher, que se centra o documentário apropriadamente intitulado «José & Pilar». Filmado sobretudo na ilha de Lanzarote onde o casal construiu o seu lar mas também nas imensas viagens a que o escritor se via obrigado por não saber dizer não aos imensos convites que recebia, o que vemos desfilar na tela é o lado real mas intensamente emocional de um amor que nasceu a partir da busca de uma jovem mulher por um homem grande na sua arte e se foi construindo nas pequenas coisas do dia-a-dia, na intimidade de dois seres humanos que se entregaram profundamente ao amor que os unia.
Ainda assim, é importante verificar como a câmara de Miguel G. Mendes acompanha o processo criativo do escritor e capta as suas angústias e temores mas, sobretudo, as convicções que partilhava com o mundo sem jamais as querer impor. Hoje, José e Pilar convivem de mãos dadas numa esquina da Azinhaga, terra natal do escritor, onde as ruas José Saramago e Pilar del Rio confluem entre si. E na placa toponímica que identifica a rua que homenageia a mulher do escritor, está à vista de todos uma das mais belas mensagens de amor que alguma vez pude ler. Retirada da obra «As Pequenas Memórias», lá está a frase que perpetua um grande amor: «A Pilar, que ainda não havia nascido e tanto tardou a chegar.»
Obrigatório. Para amantes da escrita de Saramago, do homem apaixonado que foi Saramago, para amantes de cinema e para quem, como eu, acredita no amor desprovido de barreiras de diferenças de idade ou outras.
«José & Pilar», de Miguel Gonçalves Mendes, com José Saramago e Pilar del Rio
[Foto tirada na Azinhaga, a 24 de Novembro; há um par de dias atrás]
4 comentários:
Fui vê-lo ontem e também gostei muito. Gostei essencialmente da verdade que transparece no filme, ou seja não houve ali uma tentativa de limpar a imagem do escritor, de o tornar um Deus, de tornar a Pilar a mulher perfeita e eles um casal perfeito. É apenas um documento da vida dele nos seus últimos anos. Gostei muito e ainda me ri um bocado... Não fosse ele um homem com um sentido de humor especial. :)
É bom ver o documentário em exibição ao lado de filmes como Harry Potter e Saw. :) É é pena estar em exibição apenas em Lisboa, pelo que percebi. Será que vais para outras salas do país?
Bom resto de Domingo.
Concordo em absoluto com o que dizes, N. Martins. Só uma achega ao teu comentário: fora de Lisboa [onde se encontra em 5 salas] o filme também está em exibição no Porto [2 salas], Olhão e Coimbra. E creio que é hoje exibido no âmbito de um colóquio/debate a decorrer na Azinhaga, terra natal do escritor. Bom Domingo. :)
Gostava muito de ver este filme/documentário! Bjs
E certamente que verás, Rubi. Duvido que chegue às salas de Londres mas brevemente estará em DVD. Beijo.
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