domingo, 18 de novembro de 2012

As Palavras




Um amor para recordar

No ‘trailer’ de «As Palavras» uma frase alerta-nos para algumas histórias que nos acompanharão ao longo da vida, para sempre. Nada de mais verdade, assim como a convicção de que a história da vida de cada um de nós é feita sobre as decisões que tomámos – certas ou erradas, mas também de acasos do destino. Essa frase, numa realização que viaja entre a realidade e a ficção sem sabermos muito bem onde está a verdade absoluta, irá acompanhar-nos até ao fim do filme já que são as nossas próprias vivências que este vem despertar.
Em «As Palavras», aparentemente fala-se de duas vidas recheadas de vicissitudes diversas que por culpa própria ou por circunstâncias várias haverão de roçar a tragédia. Uma dessas vidas que num tempo [o pós segunda guerra] e num espaço [Paris] foi de uma intensidade fervorosa e de uma paixão que haveria de prevalecer e a outra, passada na Nova Iorque de hoje, feita de ambição, de querer e de muita deceção por ver a sua criatividade literária vedada por uma opinião alheia e totalmente desinteressada no seu suposto talento [os editores de livros]. E aqui se confirma que pela dimensão humana das histórias transversais que evoca, o filme tem a capacidade de tocar na emoção de muitos que o assistem seja por força do amor, da literatura ou muito simplesmente daquilo que reúne todos os nossos passos por cá: ela mesmo, a vida.
Rorey Jansen [Bradley Cooper] é um aspirante a escritor. Frustrado pelas sucessivas negativas das editoras, Rorey é incapaz de dizer não à ilusão do sucesso e às lágrimas emocionadas da sua mulher [Zoe Saldana] quando um belíssimo manuscrito lhe vem parar por acaso às mãos resolvendo propô-lo como seu. O sucesso é imediato mas neste entretanto a ficção transforma-se em realidade quando um homem velho e cansado [excelente Jeremy Irons] vem conferir autenticidade à história do seu livro. Uma autenticidade de que Rory nem se apercebera. Aquele homem velho vivera a história que as palavras resgataram do esquecimento e fora ele mesmo quem, numa velhinha máquina de escrever, trucidado pela dor do amor e pela tragédia da perda as erigira em apenas duas semanas sem dormir e quase sem se alimentar. Entretanto, e no filme, perante uma plateia ávida a contar-nos as amarguras do aspirante a escritor e do escritor que nunca o veio a ser está Clay Hammond [um Dennis Quaid controverso e brilhante], ele que vive a publicação do seu próprio livro e lança novas dúvidas sobre o que nos é contado. Neste momento, dá-se uma nova dimensão à velha expressão de que nem sempre o que parece é.
Entre o drama pessoal de Rory, construindo a sua vida sobre uma mentira, e o drama do velho homem vítima de um destino feito de acasos infelizes e más escolhas a realização dupla de Brian Klugman e Lee Sternthal tem o mérito de evidenciar que nada está perdido no mundo da literatura se a intensidade emocional, a genuinidade das palavras e a força da vida triunfarem sobre uma determinada imagem de sucesso com referências que o mercado julga essencial distribuir aos leitores. Mas isto sem que o filme alguma vez consiga atingir a grandeza sentimental e trágica que encerram as suas duas personagens centrais. Por outro lado, a busca da verdade [por Rory] como expiação para o seu erro cai num desnecessário moralismo que aligeira até a agitação psicológica em que o escritor vive e que seria um dos trunfos do filme. E neste aspeto, é até a personagem de Dennis Quaid, ambígua, desregrada, furtiva que transparece e está mesmo ao nível do que de melhor a literatura e o cinema nos podem oferecer.
Posto isto, deve um homem saber quais são os seus limites, como se pergunta no filme? Deve, claro. Mas tal como essa consciência pode servir para que não se cometam erros como o plágio cometido por Rory também não deve jamais ser limitadora do sonho. Basta lembrarmo-nos, para contrariar o filme, que uma das maiores ambições do homem foi sempre a de ultrapassar os seus limites. Ou então, numa outra questão lançada pelo filme, se não o fizermos, se no mínimo não o tentarmos, de que vale a pena viver?
«The Words», no seu título original, é, em suma, um filme de emoções que procura debater algumas equações que a vida nos coloca. É, por isso mesmo, um filme ambicioso. Mas uma ambição que se refreia na forma como interfere demasiado nas questões morais mostrando ainda um Bradley Cooper ainda longe das capacidades dramáticas que o seu papel exigia. Em sentido contrário estão Jeremy Irons, irrepreensível, e, em minha opinião, Dennis Quaid. Sobretudo porque é nas cenas em que Quaid participa que o filme mais se agiganta. Nomeadamente no diálogo com a jovem estudante Daniella [a atraente Olivia Wilde]. Destaque ainda para a belíssima Nora Arnezeder, ela que é Celia, o amor de uma vida, o amor da vida do homem velho corporizado por Irons, talvez ele mesmo o único escritor num filme em que se passeiam vários pela tela.

«The Words», de Brian Klugman e Lee Sternthal, com Bradley Cooper, Dennis Quaid, Jeremy Irons, Zoe Saldana, Olivia Wilde e Nora Arzneder


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Hoje...






…revi-te na minha sala. Como aqui se mostra, estavas linda. Não, não eras a ex-mulher de um polícia de Memphis afogado no álcool por lhe teres dado a provar o sabor do amor. Eras uma mulher de causas casada com um diplomata de carreira. Morreste algures em África e ele, o fiel jardineiro, morreu por ti. É sempre tão bom rever-te. Chames-te tu Sue Lynne, Tessa Quayle ou simplesmente Rachel.