domingo, 19 de maio de 2013

A Essência do Amor




A Essência do Amor

 

A fragilidade do amor

 

Terrence Malick é um cineasta muito especial. Sensível, poético e filosófico o seu cinema não agrada a todos mas jamais desilude quem se reveja nas suas questões existenciais, na constante procura de pontos de ligação na relação do homem com o universo. E «A Essência do Amor»[2012] não foge a isto, procurando demonstrar a permanente necessidade do amor no ser humano mas também a fragilidade desse sentimento voraz capaz de fazer os homens e mulheres os seres mais felizes mas também os mais infelizes do planeta. E não é por acaso que no filme, num momento de paixão a voz que é muda mas que se ouve no nosso cérebro, porque é íntima, porque nos pertence como indivíduos, sussurra “levantaste-me do solo”. Isto é, fizeste-me pairar, fizeste-me tornar num ser leve, feliz, levaste-me a acreditar em ti e no amor, na vida. E ao invés, quando termina uma das duas paixões que servem de objecto para a reflexão de Malick, a personagem de Jane [belíssima Rachel McAdams] põe toda a sua mágoa na frase que, grosso modo, diz “confiei em ti mas agora tiraste-me tudo, afinal eras apenas um sonho, não, não és real, não existes mais”. E não há certamente maior amargura em matéria de sentimentos que negar a existência de um amor que antes parecia querer ficar para sempre na vida de dois amantes.

Há outra constante no cinema do homem que nos trouxe, entre outros, «A Barreira Invisível»[2008] e o mais recente «A Árvore da Vida»[2011]: a natureza, a natureza mais selvagem e a edificada pelos tempos. Porque o ser humano é parte integrante dessa mesma natureza ainda que questionemos permanentemente os seus mistérios por mais insondáveis que se afigurem. E nessa maravilha visual que é o cinema de Malick, nesse jogo de luzes e sombras, de delicadeza e sensibilidade, a inquietude é uma constante e o sonho confunde-se insistentemente com o pesadelo. Em «To The Wonder», no seu título original, Marina [Olga Kurylenko] apaixona-se em França por Neil [Ben Affleck] e segue-o por duas vezes até à América. Mas como a orgânica do amor é outro dos mais guardados segredos da natureza humana, as coisas nem sempre decorrem de acordo com esse maravilhoso sentimento. Entretanto, nas imediações de ambos um padre [Javier Bardem] afunda-se na sua falta de crença, na incapacidade que o consome de compreensão para os dramas humanos que o ladeiam não vislumbrando Deus não só na forma de ajudar a minorar essas tragédias como na sua génese.

Já o disse aqui. O cinema de Terrence Malick é eminentemente filosófico, poético, contemplativo. E procura quebrar com aquilo que são as noções universais que temos da vida desafiando o convencionalismo e desmontando preconceitos. E isto tudo para nos dizer, acredito, que a natureza está acima das convenções do homem e não existe felicidade se não seguirmos o nosso instinto ainda que em algumas ocasiões venhamos a concluir que estávamos errados. Quanto a este «A Essência do Amor», na minha opinião resultaria num filme perfeito se algum do minimalismo das suas histórias pudesse ser trocado por um pouco mais de realismo naquilo que nelas existe de hipnótico. Mas, admito, Malick não é isso, não é um realista. Terrence Malick é, para o bem e para o mal, cada vez mais um impressionista.

 

«To The Wonder», de Terrence Malick, com Ben Affleck, Olga Kurylenko, Rachel McAdams e Javier Bardem