domingo, 10 de fevereiro de 2013

Barbara




 

Sobrevivência

 

«Barbara», do alemão Christian Petzold, é um objecto singular no panorama actual dos filmes em exibição no nosso país. Detentor de uma estética naturalista, através de Barbara, uma médica que é desterrada para uma pequena cidade de um ainda mais pequeno hospital junto ao Mar do Norte, Petzold filma a Alemanha comunista de inícios dos anos oitenta. E fá-lo sem cair nunca na grandiloquência das ideias fortes, preocupando-se muito mais com a recuperação moral e emocional de alguém que é vítima de um sistema áspero, totalitário e castrador evitando o caminho mais fácil e tantas vezes visto, o da decadência.

Interpretada por Nina Hoss, que aproveita a sua beleza inata sem recorrer à maquilhagem excessiva, Barbara mostra-se uma mulher aparentemente fechada para o mundo que a rodeia, vivendo tão isolada deste como isolado do mundo moderno vivia o regime da RDA. Para Barbara apenas parece interessar o passar dos dias que a leva a encontros fugazes com o namorado, um alemão ocidental, até ao dia em que iniciará a fuga que a levará definitivamente para junto deste e a afastará da opressão da Stasi, a polícia política que a visita com regularidade. Enquanto isso, vai ganhando proeminência André [Ronald Zehrfeld], o seu chefe no hospital que ao invés de cumprir a sua missão de informador se torna no protector da sua nova colega – ele que é também uma vítima do sistema.

Numa narrativa discreta mas eficiente, «Barbara» vai-se revelando aos poucos cinema maduro onde importa muito mais o lado humanista de uma sociedade deprimida pelo regime que a atormenta que propriamente a denúncia dos seus carrascos. Ainda assim, faltam picos de emoção e uma verdadeira trama a este cinema introspectivo, quase intimista, que aproveita a atmosfera rural para se impor ainda mais como um fresco numa tela que convida à contemplação sem necessidade de exercer a reflexão. O mais grave no filme acaba afinal por se quedar numa dúvida importante ao observarmos a aproximação afectiva de Barbara a André. Isto é, a de saber se o namorado ocidental de Barbara seria o seu verdadeiro amor ou um simples meio de fuga a uma vida que julgava não querer mais. Mas essa é uma resposta que o silêncio emocional de Barbara jamais nos poderia fornecer.

 

«Barbara», de Christian Petzold, com Nina Hoss e Ronald Zehrfeld

 

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