quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O Mentor




Bebedeira monumental

Há quem diga que faz parte da essência das obras-primas agradar muito a uns e desagradar a outros. E, nessa linha de raciocínio, talvez «The Master» seja a mais recente obra-prima de Paul Thomas Anderson a quem eternamente se agradece «Magnolia»[1999], esse extraordinário filme que retratava um mosaico de gentes coincidentes entre si. Talvez, repito, mas reconhecendo nele um filme de autor, ambicioso e com um excelente elenco – que o tem, não nego – não passa ainda assim de uma aborrecida proposta de cinema onde imperam o mau gosto e a reflexão abstrusa em que infelizmente caem grande parte dos retratos de época.
Como dizia, «O Mentor» é um ensaio sobre a América do pós-guerra juntando dois protagonistas que sendo diferentes entre si se atraem por oposição. Um deles, Freddie Quells [Joaquin Phoenix],um veterano de guerra com problemas graves de foro neurológico, a viver escravo dos instintos mais básicos de si enquanto ser humano, descontrolado e desenraizado da sociedade e outro, Lancaster Dodd [Phillip Seymour Hoffman], oportunista, explorador das fraquezas psicossociais da época e dependente da estrutura social onde ele mesmo pretende fazer-se líder espiritual. Nesta relação aparentemente simples ao olhar desavisado mas complexa na narrativa do filme, se constrói uma análise que se quis aprofundada e filosófica da sociedade norte-americana dos anos cinquenta. Uma época que deu origem a movimentos mais ou menos esotéricos como a Cientologia e se debateu com questões sociais gravíssimas como a integração dos chamados traumatizados da guerra.
A questão aqui é a de procurar perceber se o mensageiro [leia-se, a realização] conseguiu fazer com que a mensagem [o filme] chegasse em boas condições ao destinatário [o espectador]. E no meu caso particular, revejo-me um pouco nas bebedeiras de Quells [Phoenix]. Isto é, sinto que não me diverti enquanto bebia e no final dei comigo a contas com uma ressaca dolorosa. Até porque mesmo no melhor que o filme tem, as interpretações, fica-me a dúvida se o mérito que se lhes reconhece está inteiramente de acordo com a química conseguida na plateia. Em suma, suspeito que «O Mentor» seja um importante pretexto para exaltação de virtudes por parte de quem se revele fã firme do cinema de Paul Thomas Anderson mas muito pouco satisfatório para quem vê cinema a descoberto dos nomes daqueles que o fazem. Passo.

«The Master», de Paul Thomas Anderson, com Joaquin Phoenix, Philip Seymour Hoffman e Amy Adams

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