sábado, 16 de fevereiro de 2013

Psycho

 


Filme emblemático do mestre do ‘suspense’, esta obra representa igualmente uma vertiginosa viagem aos labirínticos tormentos da mente humana. Uma viagem tão sinistra quanto fascinante.

Uma jovem, Marion Crane (Janet Leigh), decide roubar uma elevada quantia de dinheiro ao seu patrão com o intuito de poder ficar definitivamente com Sam (John Gavin), o seu amante. Na posse dos 40 000 dólares do furto, Marion lança-se à estrada. Faz-se noite e chove copiosamente, a mulher acaba por sair para uma estrada secundária e dirigir-se a um motel, o Motel Bates. Ao largo do edifício de hospedagem apenas se vislumbra no topo de uma colina uma mansão de estilo gótico, tão imponente quanto assustadora, mesmo de visão arrepiante. É naquele lugar que vivem Norman Bates (Anthony Perkins), que dirige o motel, e a sua mãe, aparentemente uma senhora já idosa mas de personalidade autoritária e possessiva que oprime o filho.



Esta é a premissa inicial para “Psycho”, obra máxima do cinema de terror onde assume especial relevância a construção do perfil psicológico das personagens, em especial a de Bates numa interpretação magistral de Anthony Perkins. Esta premissa representa, aliás, uma das mais surpreendentes características da realização de Hitchcock ao rasgar todas as convenções até então do cinema do género matando a sua protagonista decorrido somente cerca de um quarto de filme. Em boa verdade, tudo o que sucede até que o espectador é encaminhado para o Motel Bates perde qualquer significado posterior resultando apenas num estratagema para alcançar esse objectivo. É então que se desenvolve o essencial da acção, num desfilar brilhante e ininterrupto de intriga, ‘suspense’ e genuíno terror. Terror esse onde não existe espaço para o elemento sobrenatural já que tudo o que nos inquieta resulta dos mais recônditos labirintos da mente humana. Tudo nele é real, ou seja, passível de acontecer. É quando Lila (Vera Miles), a irmã de Marion, intrigada com o desaparecimento desta, segue na sua busca na companhia de Sam, o amante da irmã. Também no encalço da desaparecida, embora mais preocupado na recuperação do dinheiro, vai o detective Arbogast (Martin Balsam).



O filme, com argumento de Joseph Stefano, é uma consequência do livro de Robert Bloch. No entanto, várias alterações foram promovidas na obra de Hitchcock uma vez que o livro se baseava na história verídica de Ed Gein, um psicopata do Winsconsin que por volta dos anos 50 aterrorizou a pequena localidade campesina onde nascera e vivia. Assim, a acção foi trasladada de uma quinta para um motel e o lúgubre protagonista da história tornou-se num indivíduo fisicamente mais delicado. Neste âmbito, é ainda de realçar a sóbria corporização idealizada por Perkins de uma personagem sinistra que vivia assombrada pelo fantasma da mãe. Nesta realização sublime, são inúmeras e memoráveis algumas cenas de tensão. Verdadeiramente antológicas são a cena do assassinato no chuveiro onde a tensão se adensa com o som dos violinos da fabulosa partitura de Bernard Herrman a acompanharem o percurso do punhal até se enterrar dolorosamente no ventre da vítima, não descurando o pormenor posterior da água envolvida em sangue escoando do banheiro, e a cena do monólogo final. São cenas que perdurarão para sempre indiferentes ao definhar do tempo.



Não sendo, talvez, a obra de Hitchcock mais reputada pelos especialistas, onde filmes quase todos eles da sua fase americana como “A Janela Indiscreta” (1954) e “Vertigo” (1958) possuem um lugar de relevo, “Psycho” é, no entanto, e muito justamente, um dos mais adorados filmes por parte de cinéfilos de várias gerações e o seu maior sucesso comercial. Mas não estão sós, os cinéfilos. Em 1989, a reconhecida revista inglesa “Time Out” questionou 60 realizadores de todo o mundo sobre os 100 melhores filmes de sempre. “Psycho” foi escrutinado na 14ª posição, o que é um dado verdadeiramente estimulante para um filme do género.



Em 1983 e 1986 surgiram as inevitáveis sequelas. Uma levada a cabo por Richard Franklin, a primeira, e a outra pelo próprio Anthony Perkins que protagonizou os dois filmes. Em 1998, Gus Van Sant dirigiu um ‘remake’ que respeitava escrupulosamente o enredo da obra original. Nenhum destes filmes logrou ultrapassar, sequer aproximar-se, do fascínio macabro que o trabalho de Hitchcock alcançou. Para isso muito contribuíram a fotografia de John L. Russel, um sombrio e inigualável preto e branco, e a já referida música de Bernard Herrman composta de instrumentos de cordas. Tecnicamente perfeito e contando com interpretações sem mácula de todo o elenco, “Psycho” é pois um filme deslumbrante onde a espiral de tensão se adensa na aturdida mente do espectador.

1 comentário:

redonda disse...

Quando penso neste filme a cena que melhor me recordo é a do ataque no chuveiro.
Ler este texto fez-me lembrar o filme :)