segunda-feira, 7 de março de 2011

Um Funeral à Chuva





SS*

Este fim-de-semana resolvi descobrir igualmente «Um Funeral à Chuva», de Telmo Martins, fenómeno recente no panorama cinematográfico português. A sinopse conta-se facilmente e faz lembrar tão levemente quanto a queda aparatosa de um elefante esse filme mítico que dá pelo nome de «Os Amigos de Alex» [1983], de Lawrence Kasdan. Mas do pormenor não vem mal ao mundo assim como a trivialidade das conversas entre os sete antigos colegas de universidade que se reencontram para o funeral de um deles que morreu prematuramente e daí resolverem fazer um rescaldo das suas vidas e retomar a ligação e amizade entretanto perdidas assim como o ‘dèja vu’ das situações em que incorrem. Não, não viria mal ao mundo se Telmo Martins and friends conseguissem tornar o seu projecto recheado de nobres intenções, reconheça-se, num filme agradável. E já agora, que isto de pedir não custa, com uma narrativa fluida uma vez que a complexidade existencial se afoga rapidamente numas quantas cervejas acompanhadas de um charro aqui e outro acolá.
Mas se há filme em que seria de todo agradável tecer os mais rasgados elogios, seria este «Um Funeral à Chuva». Porque não teve subsídios e, a acreditar nos próprios, nem custos para a produção que conseguiu alavancar-se no apoio de diversas empresas e entidades. Mas também, ‘last but not least’, porque o filme tem as pernas da actriz Sandra Santos. Umas pernas lindas que a câmara de Telmo Martins capta avidamente desde o tornozelo até aos minúsculos calções que a sua personagem usa durante quase todo o filme. Um filme que tem duas horas e dez minutos de duração, diga-se. Por outro lado, há ainda a Covilhã e a Serra da Estrela, a nostalgia da universidade, das praxes académicas e das bebedeiras. Mas, confesso, as pernas da Sandra Santos filmadas por Telmo Martins ficaram-me na retina e são do mais memorável que o cinema português do género nos ofereceu até hoje. E agora que as temos esqueça-se as mamas da Rita Pereira nos Emmys ou as ditas da Cláudia Vieira em «O Contrato» [2009], de Nicolau Breyner. Mas, facto penoso neste caso, um filme não pode ser só pernas e as mulheres são muito mais que pernas e mamas. No cinema como na vida. Nós, os homens, como bem diz o Vitor Norte em «O Contrato», é que ‘somos uns gajos do caralho’.

*Sandra Santos

«Um Funeral à Chuva», de Telmo Martins, com Sandra Santos, outros


6 comentários:

redonda disse...

Deduzo que para o público feminino, não haverá umas pernas masculinas que salvem o filme...

JL disse...

Bom, há por lá uma data de gajos... Dá uma saltada ao filme e vê se existe a tua medida, Gábi. :)

l00ker disse...

Joaquim, sou suspeito para comentar este filme pois sou natural da Covilhã e também eu vivi a vida académica. Talvez por isso, lendo hoje o comentário que escrevi na altura (http://l00ker.blogspot.com/2010/06/um-funeral-chuva.html) se nota que foi a "quente". Já o revi. De facto não é nada do outro mundo, mas continuo a achar que consegue fazer passar o sentimento de união e amizade tão comum no ensino superior, apoiado numa excelente banda sonora e num grande esforço por parte de todos, ainda que se notem facilmente algumas falhas e clichés.

Acho que acima de tudo, há que realçar o esforço e dedicação de todos os que participaram e fizeram nascer este filme, esperando obviamente que o próximo seja sempre melhor. Ainda assim, gostei bastante e o próprio trailer ainda hoje mexe comigo (http://www.youtube.com/watch?v=bPKPX75Jp54).

JL disse...

Nuno, o que acontece contigo relativamente a «Um Funeral à Chuva» já aconteceu comigo em inúmeros filmes. Nem queiras saber a lista interminável de filmes maus e outros assim-assim que por este ou por aquele motivo me tocaram e eu gostei.

O problema maior de «Um Funeral à Chuva» reside aí mesmo para além da previsibilidade, da fragilidade argumental, das fontes que ficam por citar e até do paupérrimo trabalho de alguns actores do elenco. É que os mentores do filme parecem ter pegado numa receita de sucesso [que tão bem foi trabalhada por Kasdan em «Os Amigos de Alex»] que talvez pensassem fosse suficiente para atrair uma faixa de espectadores previamente determinada, mexer bem, levar ao lume e servir com pompa e circunstância alheios a factores tão importantes como por exemplo ser verosímil fugindo aos lugares-comuns que povoam o filme.

Acredita, eu julgo saber o que se passou pela cabeça do Telmo Martins perante os ouvidos moucos das entidades oficiais em relação ao seu filme. É que eu mesmo, aqui há uns anos, e sem querer entrar em comparações, fiz o mesmo em relação a um livro. E sabes o que é que eu consegui? Escrever uma autêntica bosta que apenas agradou aos meus amigos.:)

l00ker disse...

Ao menos seguiste os teus princípios e mesmo que não tenha agradado a "quem manda", por certo te deve ter dado um gozo especial que tenha agradado aos que te querem bem e que tu estimas. Por acaso já não me lembrava que tinhas um livro, mas lembro-me vagamente da capa! Tenho que pesquisar a ver se ainda se encontra à venda ;)

Em relação aos filmes de que falas, o exemplo mais flagrante é o de um filme que achei extraordinário e por cá, duvido que alguém conheça! Um filme sueco de nome "New York Waiting" (http://www.imdb.com/title/tt0457201/) que me conquistou por completo!! Fica o trailer (http://www.youtube.com/watch?v=TdaCNOvyqJU). Desculpa o spam :)

JL disse...

Confesso não conhecer «New York Waiting», Nuno. Mas o 'trailer' é bem sugestivo. Aliás, muitos destes pequenos/grandes filmes fazem parte da minha lista 'privada' de preferências. :)