Do Porto gosto sobretudo do entardecer invernoso, poético, de deixar que os meus olhos se estendam sobre o casario e relembrar «Porto da Minha Infância», filme que Manoel de Oliveira, seu realizador, sempre considerou um mero documentário. Não sem emoção, é possível sentir no Porto como a vertigem do tempo, do tempo interminável, deixa a sua marca e se reflecte no moldar da cidade e das suas gentes. E constatar que um homem não pode viver amputado do seu passado. O passado, remoto ou recente, reflecte outro tempo, momentos vividos que devem permanecer apenas na intimidade das nossas memórias, mas pode e deve ser recordado com segurança e orgulho.
E «Porto da Minha Infância» reflecte isso mesmo, transformando-se num legado poético e intimista do velho cineasta à sua cidade. Foi realizado com o saber e serenidade próprios de quem detém um conhecimento da vida resultante de já muito ter palmilhado por ela. Como Oliveira, costumo reflectir sobre um Porto romântico em cor e luz mas também uma urbe que reclama para si uma alma própria, uma intimidade genuína e oculta onde um estranho dificilmente consegue entrar. E eu gosto de pensar que o Porto me permitiu essa entrada reservada, que fui premiado pela minha sentida cumplicidade com a velha, granítica e poética cidade do norte de Portugal. Nasci em Abrantes, sinto que pertenço a Lisboa mas repouso o meu espírito no Porto.
2 comentários:
Nasci em Abrantes, sinto que pertenço a Portalegre, mas o meu espírito devaneia pelo Porto...
Gostei!!
Obrigado, conterrânea de origem. :)
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