segunda-feira, 25 de julho de 2011

Stanley Kubrick na Cinemateca





DE OLHOS BEM FECHADOS
[Cinemateca, 4ª feira, dia 27 pelas 21.30 horas]



A prova final da genialidade do mestre, da genialidade de Stanley Kubrick

   
Ao longo da sua carreira de realizador de cinema, Stanley Kubrick revelou ser um profundo conhecedor da natureza humana. E em «Eyes Wide Shut», cujo argumento foi co-autor, mais do que construir uma narrativa a partir da realidade buscada na sua forma mais marginal, ou de pesadelos como alternativa à impossibilidade prática de quebrar as regras, o seu conhecido perfeccionismo que o levava a repetir ‘takes’ até à exaustão de técnicos e actores, está patente sobretudo num conjunto de diálogos intensíssimos onde cada simples palavra é não só fundamental como imprescindível para que a ‘mensagem’ passasse para o lado de cá da tela. Mas este é apenas um dos destaques de um filme maior que deu outro relevo a um género cinematográfico já de si de uma riqueza considerável dada a vastidão de obras-primas nele contido, o drama psicológico.

Toda a trama gira em volta de situações pertencentes ao imaginário das personagens, ou na sua forma tentada, e o que se observa é que aquilo que na realidade nunca chega a acontecer provoca ainda assim a explosão e o abalo emocional que levam a que um casal necessite expulsar os seus fantasmas para poder seguir em frente. Como génio que foi, é importante que se tente perceber de que se rodeou o realizador para esta espécie de aproximação a Freud. Neste âmbito, atente-se como a banda sonora do filme é simplesmente fantástica na forma de acompanhar o desenlace psicológico das diversas cenas, estimulando por vezes a união dos corpos, sendo de alguma sacralidade noutros momentos e servindo-se do som enérgico das teclas de um piano martelando quase sempre as mentes perturbadas. Os ambientes escolhidos são faustosos e de indiscutível bom gosto e, noutra vertente,a construção do perfil psicológico de cada personagem foi levada ao extremo. Desde o anónimo pianista de serões pela madrugada dentro até ao simples recepcionista de hotel, passando pelas prostitutas que povoam a grande mansão onde tem lugar uma das cenas fulcrais do filme. 


Em termos do ‘cast’, para o par nuclear da trama Kubrick escolheu dois actores no auge do seu mediatismo que formavam então um casal na vida real. E Tom Cruise e Nicole Kidman mostraram-se à altura da tarefa que o mestre-de-cerimónias lhes destinou, brindando-o com duas representações memoráveis muito bem secundados pelo também já precocemente falecido Sidney Pollack. Ele que talvez tivesse embarcado aqui numa busca de aprendizagem para aquela que foi a sua mais conhecida faceta, a de realizador. Mas se tudo é extremamente perfeito no filme não nos admiremos por em momento algum, gostemos ou não daquilo a que assistimos, nos seja dada a oportunidade de pensarmos que este ou aquele pormenor poderia ter sido mudado para outra coisa qualquer.

Em suma, «Eyes Wide Shut» é uma obra-prima do cinema, a derradeira de Stanley Kubrick, o mestre, ele que já não pôde assistir à estreia do seu filme.



«Eyes Wide Shut», de Stanley Kubrick, com Tom Cruise e Nicole Kidman

Sem comentários: