quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Do amor & etc.

[A modelo fotográfico Iga A., gosto de a ver trabalhar]





Ontem almocei com um colega de trabalho na Golegã no restaurante ‘Lusitanus’ que aconselho porque tem uma boa cozinha, é agradável e dá para a praça onde se celebra de forma singular a arte equestre. Ao nosso lado, numa mesa próxima, uma mulher lindíssima parecida com a modelo Iga A. mas que aparentemente é professora e dá aulas naquela vila ribatejana, revelava-se perdida de amores por um homem bem mais velho, barba e cabelos brancos perante o espanto e [digo eu] a inveja do meu parceiro de refeição. E de repente passaram defronte de mim todas aquelas séries da Fox, AXN e outros canais, as telenovelas das oito e outros modelos de perfeição, filmes com modelos jovens, eles e elas rijos de carnes, eles e elas de corpos tonificados, mulheres geneticamente modificadas e não pude deixar de pensar que a vida não é o que nos enfiam olhos dentro, que a fasquia não pode ser colocada tão alta e que é preciso que aprendamos a gostar das pessoas que somos, tal como somos e não como nos querem convencer que deveríamos ser. E nem sequer perdi tempo a apaziguar o ar incrédulo de quem almoçava comigo dizendo-lhe o óbvio, que o que ele via ali ao seu lado não era mais que amor, que o amor. Ou a vida tal como ela deve ser vivida, sem artificialismos nem recurso à ficção. No meu silêncio, recordei-me apenas de uma citação que li algures por aí do filme «Control», de Anton Corbijn, quando a amante de Ian Curtis resvala levemente da cama ainda quente pelo calor transpirado do amor, se vira para Curtis com toda a ternura do mundo e lhe diz como ele é deprimente. E diz-lho como se lhe fizesse a mais bela declaração de amor de que há memória. É mesmo isso, o amor tem muitas mais possibilidades que as nossas cabecinhas limitadas podem prever.