sexta-feira, 22 de julho de 2011

A Árvore da Vida





O Reluzente Planetário da Vida



Escrever um texto sobre «A Árvore da Vida», a mais recente obra-prima de Terrence Malick, é deixar que os caracteres formem em palavras, frases e ideias uma definição de nós mesmos. De nós como pessoas inseridas numa sociedade mais vasta que aquela que convive connosco mas sobretudo como seres humanos que pensam, sentem e se projectam para lá daquilo que nos rodeia. «The Tree of Life» vive muito dos seus extraordinários efeitos visuais, tem vulcões em actividade, chuva de lava e apenas chuva, tem nuvens nos céus e um Sol que os domina. Em suma, num processo narrativo inigualável, Terrence Malick mostra-nos a história do Universo que habitamos desde os bosques frondosos por onde correm rios e dinossauros a representarem a cadeia da vida, até às visões celestiais que indiciam caber apenas no domínio da fé, daqueles que acreditam. Mas a natureza, essa, é eternamente viva. E nós, os homens e mulheres, somos parte integrante dessa natureza. E se é certo que a influenciamos não menos certo é que somos irremediavelmente influenciados por ela. Desde o dia em que nascemos até àquele em que morremos.
Malick não é um realizador vulgar. Quase não aparece em público e realizou agora o seu quinto filme em quarenta anos. Todos eles imprescindíveis. E os seus temas mantêm-se coerentes e actuais na confrontação entre o sagrado e o profano, entre a fé e os factos, questionando-se sobre o mundo e a nossa própria existência nesse mundo. As vozes em ‘off’ – em «A Árvore da Vida» há somente uma voz ‘off’ – perguntam. Perguntam, é certo, mas não parecem querer obter uma resposta. Ao invés, pretendem obrigar o espectador a pensar sobre as respostas que afinal até existem no filme. E para isso, Malick filma a natureza como ninguém, imagem e som vagueiam de mãos dadas na tela e a sensibilidade e beleza tocam-nos de um modo que quase diria irreversível se tal fosse possível. E os momentos de lucidez de que o espectador é acometido são a espaços interrompidos por uma estranha  forma de loucura, pela alienação que nos é transmitida pela visão única de um mundo em ebulição.
Mas que ninguém saia da sala caso se sinta intimidado por esta quimera feita de segredos insondáveis de um universo que é de todos mas que a ninguém pertence. Isto porque «A Árvore da Vida» é também uma viagem à América dos anos cinquenta, no pós-guerra. Nas paisagens bucólicas do Texas, a família O’brien divide-se entre um pai disciplinador, uma mãe doce e terna e três pequenas crianças um pouco à deriva num mar de felicidade mas que a espaços é atormentado por ondas de desespero na incompreensão dos mais pequenos confrontados com os actos dos maiores. Entretanto, o filme acompanha até à idade adulta o filho mais velho do casal. Este que é uma espécie de alma perdida num mundo moderno. Acompanha igualmente a tentativa de reconciliação deste na relação conturbada com o pai e a sua busca de um sentido da vida rebuscando nas suas origens e admitindo no final a existência da fé. Brad Pitt é o pai, Sean Penn o filho e Jessica Chastain a mãe. E eu e tu, eles e nós também somos filhos, pais, seres humanos que habitam este mesmo universo numa espécie de trânsito para a morte. Mas, estou plenamente convicto, onde vale bem mais acreditar que há tanto para viver até ao dia final ao invés de crer noutra vida esquecendo esta.



«The Tree of Life», de Terrence Malick, com Brad Pitt, Sean Penn e Jessica Chastain





4 comentários:

cs disse...

Adorei. Adorei a narrativa visual (como diz) do Big bang aos nossos dias. A pata do Dinossauro e o deixar viver, num olhar pela selecção natural delicioso. Docemente ali retratado . Ainda na minha visão, aquele crescer do filho e a relação com o pai polémica milenar e tantas vezes resolvida só em idade adulta e com dor ou dores. Excelente documento antropologicamente narrado. :))

redonda disse...

Pois...deste, não gostei lá muito. As frases, ideias, repetidas, despertaram o meu espírito de contradição...

CurlyGirl disse...

Quero muito ver... Já ouvi criticas muito boas e outras muito más.

ADEK disse...

Não é um filme, é uma experiência. No meu caso, uma experiência que adorei!