domingo, 27 de fevereiro de 2011

127 Horas





O homem e a montanha

O filme inicia-se com imagens frenéticas tiradas de câmaras de segurança sobre as ruas apinhadas de gente, estádios de futebol imersos de espectadores, cenas vindas directamente de televisões, cenas domésticas e, de entre todas elas, emerge o protagonista do filme, Aron Ralston [James Franco]. Baseado em factos reais, Ralston, engenheiro e amante da natureza, é um homem tão confiante de si mesmo e das suas capacidades de lidar com desertos e montanhas adversas que sai de fim-de-semana algures para o Utah sem deixar uma única nota de si, sem que alguém saiba para onde seguiu.

Mas esta inconsciência sairá cara a Aron quando um dos seus braços, comprimido entre uma rocha que se soltara e as paredes de uma ravina, o faz ficar preso nas entranhas da terra. E é a partir daqui que o realizador de «Trainspotting» [1996], «A Praia» [2000], «28 Dias Depois» [2002] e o multi-oscarizado «Slumdog Billionaire» [1998] faz um filme sobre o calvário de um homem agarrado ao seu próprio destino sem qualquer possibilidade de apoio externo que não venha de si mesmo. Apesar das possibilidades deste homem aterradoras de tão pessimistas, Boyle imprime ao filme um humor a roçar o sarcasmo que faz com que plateias nervosas se confundam entre o choro e o riso. É obra.

No entanto, é inegável que numa história com estas características o filme tenha as suas próprias limitações que nem a esquizofrenia visual de que é composto consegue disfarçar. Ainda assim, nesta hora e meia de puro cenário e tensão dramática há um actor que encarna na perfeição o aventureiro dos nossos dias a quem a natureza resolveu dar uma lição perante a sua insolência. E durante os cinco dias em que está preso por um braço, o filme condensa em hora e meia toda a fragilidade humana perante uma morte que se avizinha e a necessidade de força interior para manter intactos a mente e o ânimo. Em suma, «127 Horas» é uma proposta de cinema diferente e ousada que se desenvencilha capazmente das suas próprias restrições graças ao talento dos seus autores e actores, Danny Boyle e James Franco à cabeça. Que eu corte já um braço a mim mesmo se assim não é.

«127 Hours», de Danny Boyle, com James Franco


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