segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Rotina


[Woman Reading, 1916 -Max Weber]


No começo da semana que passou, segunda-feira chuvosa, fui ao médico. Não o meu médico habitual mas um outro, aconselhado por pessoa gentil e amiga. Era, afinal, uma médica. A rondar os sessenta anos de idade, muito atenciosa, profissional irrepreensível. Deitado sobre a marquesa, enquanto me auscultava ia falando. Fazia-me perguntas, queria saber coisas, buscava pistas. E no  decorrer do exame vários foram os momentos em que viajei até tempos remotos de mim mesmo. Alguma vez esteve hospitalizado? Perante o meu silêncio, insistia. Doenças na infância, na adolescência?...

E durante a consulta senti que a médica, nos seus cuidados e na forma doce como me falava, me trouxera a minha avó de volta. Ou a mim de volta a ela. Tive saudades, apeteceu-me deitar a minha cabeça no seu regaço e adormecer sobre as memórias que retenho do temperamento dócil da mãe da minha mãe. No final, um aperto de mão caloroso, uma troca amável de sorrisos e saí para a rua. Indiferente à tempestade, ergui as faces para o céu carregado e refresquei-me na água da chuva que, conjuntamente com o frio que faz, teima em fazer também deste um Inverno dos antigos.



1 comentário:

Carlota Pires Dacosta disse...

Há pessoas que nos marcam para sempre. E essas pessoas mesmo sem estarem presentes "fazem-se" lembradas por gestos, palavras, situações.

:)