domingo, 20 de fevereiro de 2011

Despojos de Inverno





Irmã coragem

«Winter’s Bone» é mais uma pérola do cinema indie, um filme passado numa América mais tenebrosa que profunda, numa sociedade fechada sobre si e marginal, num mundo onde o gelo e o lixo tornam ainda mais hostil uma paisagem montanhosa já de si áspera como as gentes que a povoam. Correndo por fora, «Despojos de Inverno», da americana Debra Granik, promete no entanto dar que falar na noite dos Óscares. Não porque tenha grandes probabilidades de vencer alguma das quatro estatuetas para que foi nomeado, não sejamos ingénuos, mas porque cada uma das nomeações deste pequeno/grande filme são demasiadamente sólidas para não serem levadas a sério. Nomeadamente a de Jennifer Lawrence, uma irmã feita mãe coragem num mundo assente em silêncios e no medo.

Ree [Jennifer Lawrence] tem apenas dezassete anos mas a seu cargo vivem um irmão de doze e uma irmã de seis e ainda a mãe dada como louca perante o seu silêncio e inércia talvez na única forma que encontrou de enfrentar a miséria e a mesquinhez que a rodeiam. O pai, ausente, acabara de sair da prisão mas desapareceu deixando a família em risco de perder os terrenos e a casa onde vivem dados por ele como pagamento da fiança. Ree tem, assim, poucos dias para encontrar o pai e evitar o desmembramento total da sua família já de si disfuncional. Mas na tarefa árdua a que se propõe, Ree irá enfrentar as mais terríveis ameaças proferidas por personagens sinistras regidas por um estranho código de silêncio. Nessa busca, a jovem vai ainda contar com os avanços e recuos de Teardrop [John Hawkes], o tão violento como generoso irmão do seu pai.

Como facilmente se pode perceber, Debra Granik constrói em «Despojos de Inverno» um thriller de estética rugosa subindo aos montes Ozark para mostrar uma América má e feia regida por máfias familiares onde abundam os laboratórios artesanais de drogas e álcool. Mas no mundo de «Winter’s Bone», para gáudio do espectador de cinema sobrevive uma jovem que não teme enfrentar a violência de gente sórdida e dura em nome de uma responsabilidade maternal que não lhe deveria pertencer mas que ela não enjeita. E Ree tão depressa se mostra a mais terna das irmãs como a mais feroz lutadora numa interpretação superior de Jennifer Lawrence, ela que representa ainda a esperança num ambiente de adversidade e desolação. E no filme, a personagem de Jennifer rima apenas como os suaves acordes de um banjo ou nas velhas canções country entoadas por uma também velha cantora na reunião familiar que na sua desesperada busca ela interrompe. Interrompem-na Ree e o seu inesgotável amor pela vida. Pela sua, é claro, mas sobretudo pela vida dos seus dois pequenos irmãos. A não perder.

«Winter’s Bone», de Debra Granik, com Jennifer Lawrence e John Hawkes

2 comentários:

redonda disse...

É um dos filmes que estou a pensar ir ver. Gostei deste texto.

JL disse...

Se puderes, não percas. Vale muito a pena.