sábado, 19 de fevereiro de 2011

Indomável





Em nome do pai

Desde que se estrearam com «Sangue por Sangue» [1984] que, goste-se ou deteste-se, ninguém fica indiferente ao cinema de Joel e Ethan Coen. Ao longo de quase trinta anos, os dois irmãos construíram uma carreira na indústria cinematográfica onde está bem patente um estilo muito próprio normalmente associado a um sentido de humor que chega a ser desconcertante. Em «Indomável», remake de «Velha Raposa» [1969] filme que deu o Oscar de Melhor Actor a John Wayne e realizado por Henry Hathaway, o humor é um pouco mais subtil que o habitual mas os Coen continuam a fazer o mais literário cinema dos nossos dias. De facto, a qualidade do texto assente em diálogos vivos e inteligentes prova que mais do que nos deixar durante dias e dias a pensar nos seus filmes, estes servem sobretudo para que o espectador desfrute deles numa sala de cinema. E esse é o grande trunfo de «Indomável», numa realização que demonstra igualmente a grande valia técnica dos dois cineastas.

A partir do momento em que a jovem Mattie Ross [Hailee Steinfeld] resolve vingar a morte do pai às mãos de um seu empregado, percebemos que a narrativa de «True Grit», no seu título original, se vai debruçar muito sobre a fronteira entre o bem e o mal e a perda de inocência de uma adolescente que passará a partir dali a lidar permanentemente com a morte. O Marshal Rooster Cogburn [Jeff Bridges] é o homem contratado por Mattie para dar caça ao assassino. E quando este acaba por fazer um acordo com o Ranger LaBoeuf [Matt Damon] à revelia de Mattie, os três partem para as montanhas onde julgam estar escondido o infame Tom Chaney [Josh Brolin]. Nesse momento, o espectador entra definitivamente na melancolia poética dos Western, dos homens de corpos aquecidos pelo whisky, de pistola no coldre e tiro fácil e da luta pela sobrevivência em terras inóspitas povoadas por gente áspera.

E se a pequena Hailee Steinfeld se revela uma actriz de corpo inteiro completamente inserida no corpo e alma da sua personagem, Jeff Bridges assume de vez a sua importância no panorama cinematográfico norte-americano arrancando uma notável interpretação de um velho e decadente Marshall que recupera a dignidade no cumprimento da sua obrigação contratual e moral para com Mattie. Ela que se revelara desde sempre uma negociadora de verbo fácil, convincente e implacável. Entretanto, o espectador mergulha de cabeça numa história que acaba por se declarar triste e amarga ainda para mais dominada pelo desencanto com que termina. De destacar o esplendor da fotografia do filme, assim como a confirmação, através do manejo da câmara e do domínio das técnicas de som, do homem como ser minúsculo perante a terra que o rodeia.

 Em suma, este «Indomável» dos irmãos Coen é a tradução perfeita para cinema da grande literatura e aquece-nos a alma muito pela nostalgia que desperta e pelo executar assumido  de um certo revivalismo do clássico americano por excelência, o western.

«True Grit», de Joel e Ethan Coen, com Jeff Bridges, Hailee Steinfeld, Matt Damon e Josh Brolin

2 comentários:

ADEK disse...

Acabei de chegar do cinema, onde fui para vê-lo:) Não diria melhor do que foi dito neste post!*

JL disse...

Há muito tempo que não te via por cá, Ana! Beijinhos. :)