[Foto de José Boldt]
As roupas largas já muito gastas, rotas, um par de botas, uma castanha e outra preta, o fardo de caixas de papelão cuidadosamente desmanchadas mas de um peso incomportável para o seu corpo débil, para a força que lhe faltava. O olhar cabisbaixo quase em tom de súplica, o rosto de barba comprida e rala, as rugas em redor dos olhos já sem brilho, já sem sombra do sonho...
Há uma época, a da nossa juventude, em que todos temos um ou mais sonhos. Há uma outra época em que vivemos a busca desses sonhos. Desses tempos hão-de sobrar os vencedores e os vencidos mas também aqueles que se limitam a sobreviver. Mas também há aqueloutros que não fazendo parte da estirpe dos vencedores se recusam à simples sobrevivência e vivem à espera numa espécie de resignação desolada e de negação da sua existência por cá. Ou, dito por outras palavras, é como se quisessem dizer aos outros que deixem, que se deixem estar, por esta perderam, fica para a próxima, fica para uma outra vez.
3 comentários:
Gostei muito deste texto.
A resignação é apanágio dos portugueses. Melhores dias hão-de vir...
Embora, Carlos, nem todos os seres humanos sejam portugueses. Mas, sim, estou convencido que todos os portugueses são seres humanos...:)
Abraço.
Enviar um comentário