quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Noites longas



[Hotel Lobby,1943 - Edward Hopper]






Gosto de hotéis.

Gosto do momento de chegar e de olhar a azáfama dos restantes hóspedes a entrar e sair, aprecio a amabilidade com que sou recebido pelos funcionários da recepção. Sorriem-me, fazem-me sentir bem, ajudam a que me sinta à vontade num local que não é naturalmente de paragem no meu dia-a-dia. Gosto, sobretudo, quando me desloco em trabalho, dos hotéis de cidade. E ainda mais durante o Inverno. Chego, tomo um duche, saio para jantar e, se não tenho companhia, regresso rapidamente e deito-me a folhear o jornal, um livro, a saltitar com o comando do televisor de canal em canal ou, quando estou predisposto a isso, ligo o portátil, visito-vos, escrevo um pouco ou simplesmente navego de sítio em sítio sem destino pré-definido.

Mas é depois de todo esse ritual que aprecio ainda mais os hotéis. Sobretudo os de cidade. É quando chega a hora de dormir e o sono não chega. Nesses momentos, é reconfortante ter à mão o serviço de quartos sempre disponível com tudo aquilo que vulgarmente não temos em casa e que os hotéis têm. E mesmo que cheguemos à porta do quarto para a abrir quando nos vêm servir o que encomendámos, estejamos ou não despenteados, olhar estremunhado e modos a denotarem enfado, lá estão invariavelmente o mesmo sorriso, a mesma simpatia, a eterna boa disposição. Gosto de hotéis. E, em trabalho, gosto sobretudo de hotéis de cidade.

O sono que se espera, desespera e não chega, o afastar dos lençóis e as passadas lentas até à janela para uma mirada sobre as luzes da cidade. A memória de mim, a memória de ti, disto, daquilo, de aqui e de além, os olhos abertos na insónia que se sofre e não deseja.
Nunca se deseja uma insónia. Mas é nos hotéis de cidade, e em pleno Inverno, que melhor se suportam.

Lembro-me da última que tive. De cada detalhe, de cada movimento na noite. Recordo-me também como e de onde chegou e, até, quanto tempo durou. Durou até que fechei os olhos sem me dar conta e só os ter aberto já de manhã ao som irritante do toque do despertador do telemóvel. Mas lembrava tudo na noite de insónia. Lembrava o vento lá fora a abanar furiosamente os ramos das árvores na avenida, as sombras ondulantes nos passeios desertos onde apenas alguns filhos da noite, desavisados, se protegiam como podiam das bátegas fortes que encharcavam as ruas. E olhei, olhava-os, à espera, apenas à espera. E nem quando já tarde finalmente me deitei, me senti só e errante na cidade adormecida.

Gosto de hotéis. Quando viajo em trabalho, prefiro os de cidade. E se estiver uma noite tempestuosa, tanto melhor. A chuva, o vento e as sombras frenéticas distraem-nos nas noites de insónia. E recordo-me de ti, de mim, daqui e de além.

2 comentários:

Carlota Pires Dacosta disse...

Gostei do post.
:)

N. Martins disse...

Bonito o texto e as imagens que provocam. :)