segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O amor, por Minnelli







Em 1958 Vincente Minnelli realizou o filme «Deus Sabe Quanto Amei», com Frank Sinatra e Shirley McLaine nos principais papéis. A dada altura, Dave, a personagem corporizada por Sinatra, lê um livro a Ginny (Shirley MCLaine) mas acaba por se sentir incomodado com a incapacidade desta em perceber a história. No entanto, Ginny desarma-o respondendo-lhe na sua enternecedora sinceridade :



'Não, não percebi nada do livro, mas gostei. Também não te percebo e gosto tanto de ti.'



Sempre achei esta frase formidável. Não apenas pela honestidade intelectual e afectiva de alguém como pelo efeito que este comportamento aparentemente simples mas tão revelador de si tem no outro. No fundo, aqui se prova que existe no ser humano uma eterna sedução pelo insondável e pelos pequenos e grandes mistérios da personalidade que fazem cada um de nós tornar-se mais ou menos cativante segundo o olhar de quem nos observa. E não existe nenhum outro jogo de sedução tão eficaz como este em que nos expomos ao outro com espontaneidade e sem artifícios. E é esta extrema capacidade para filmar a mais pura e recôndita essência humana que fez do filme de Minnelli uma obra intemporal.

4 comentários:

Nanny disse...

A insondável estranheza do ser... ou será apenas de ser...?

Um beijo

JL disse...

'Do ser' ou 'de ser', por favor, serve-te à vontade.

Beijo. :)

Anfitrite disse...

Não falo da essência do ser, nem das obras fantásticas do V. Minelli. Fala da ternura da minha querida Shirley, que consegue dar doçura onde só há amargura como em "Irma La Douce" e no
"Apartamento".

redonda disse...

Gostei muito do filme e lembro-me desta cena.