segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Cisne Negro







A bela e os demónios

Nina [Natalie Portman] tem uma obsessão, a de se tornar prima ballerina da companhia de ballet que representa. Esta que se apresta para estrear na nova temporada o bailado «O Lago dos Cisnes», em mais uma versão das inúmeras existentes do original russo composto em 1875. E para Nina o sonho torna-se realidade quando o director da companhia - personagem interpretada com uma segurança impressionante pelo francês Vincent Cassel - a escolhe para encarnar o Cisne Negro. Mas entre lágrimas de alegria e uma incontida emoção que partilha de imediato com uma mãe, a sua, possessiva e super protectora, em Nina emergem os demónios que lhe infernizam a existência. Para piorar as coisas, a insegurança da bailarina aumenta com a chegada de Lilly [Milla Kunis], uma outra bailarina não tão perfeita em palco mas muito mais natural que Nina.
Tal como em «O Wrestler» [2008], o anterior filme do realizador Darren Aronofsky, «Cisne Negro» centra-se na sua personagem principal para exercitar uma inquietante viagem aos mais recônditos lugares do subconsciente. Mas, neste caso, com uma importante e decisiva diferença na personagem brilhantemente interpretada por Natalie Portman: enquanto Mickey Rourke pagava pelas suas escolhas erradas mas conscientes, Portman afunda-se na sua obsessão que de tão fulcral na sua vida acaba por se transformar numa grave doença psicológica. E é a partir desta premissa que o filme se agiganta nas alucinações de Nina, na confusão em que se tornam os seus dias e no seu sofrimento interior e, já agora, por que não dizê-lo, na empatia que a sua personagem cria com o espectador.
Mas se é verdade que a interpretação da belíssima Natalie Portman é magistral, também não é mentira se disser que o filme é muito mais que o trabalho da actriz. A sequência final do bailado, por exemplo, é um dos mais marcantes momentos de cinema dos últimos tempos; e a fuga aos clichés a que está associado o mundo das artes, muito bem representada através da personagem de Cassel, são trunfos de um cinema de abordagem clássica mas muito sedutora. Um cinema que se alimenta nos momentos intrigantes em que leva o espectador a mergulhar e na consequente espiral de tensão que se vai adensando até culminar instantes antes do momento final do filme. E num filme, num drama psicológico, onde o ciúme, a inveja, a vida e a morte, o mal e o bem trilham caminhos paralelos, para o espectador Nina jamais pertencerá a nenhuma destas facetas saídas todas elas da própria natureza humana. Isto porque na sua dor, no seu querer, na sua beleza arrebatadora, Nina é sobretudo uma jovem mulher em sofrimento por quem o espectador do filme torce dada a sua evidente fragilidade.
No final, o que fica de tudo isto é um tremendo fascínio por um filme extraordinário e uma sentida admiração pelo trabalho de uma actriz. E isto por mais obscura que seja a história que nos é contada e angustiante o perfil psicológico da sua personagem principal. Imperdível.   

«Black Swan», de Darren Aronofsky, com Natalie Portman, Vincente Cassel, Mila Kunis e Winona Ryder

3 comentários:

CLÁUDIA disse...

Fui ver o filme na Sexta-feira à noite ao cinema.
Uma abordagem excelente da clássica dicotomia entre o Bem e o Mal na mente humana.
Brilhante interpretação da Natalie Portman.
Psicologicamente intenso. Como se quer. ADOREI.

Como dizia Oscar Wilde: "Cada um de nós traz em si o Céu e o Inferno".

N. Martins disse...

Também gostei muito do filme e, embora o filme não seja apenas a maravilhosa interpretação de Natalie Portman, a verdade é que ela faz com que ele seja muito melhor.

redonda disse...

Ainda não vi, mas quero ver :)