segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A fragilidade do indivíduo

[Man Sitting - Back View - 1964, Wayne Thiebaud]






Anos atrás li um livro de estrutura narrativa grandiosa. Um livro unanimemente considerado como um dos grandes documentos da literatura mundial. Falo de «O Doutor Jivago», de Boris Pasternak. Hoje relembro como a obra é perfeita na demonstração da fragilidade do indivíduo, de como as vivências, os pensamentos e as reflexões de alguém podem estar tão de acordo com alguma inquietude que nos assola e necessariamente afecta os dias.


Jivago, burguês e médico, abandona Moscovo no dealbar de uma revolução. Fá-lo ao perceber que os meios determinam os fins. Isto é, que o bem gerará o bem e a força bruta só poderá gerar o mal. Imerso na violência da história, passeia-se um intelectual de alma solitária que se apaixona tremendamente por uma mulher muito mais jovem que ele. Uma mulher que encontra anos depois de a ter conhecido em Moscovo. Uma paixão intemporal que não irá viver dada a tragédia de que é vítima acabando por morrer de ataque cardíaco depois de sobreviver longo tempo na penúria.


Lembrei-me do Dr. Jivago. Do poeta, do homem apaixonado, do idealista. Lembrei-me de como não somos nada em confronto com o decorrer avassalador da vida, perante os acontecimentos sobre os quais não temos mão mas que nos condicionam o dia-a-dia, nos limitam os sonhos, nos fazem ter que recomeçar do zero quando julgávamos ter construído algo. Há em tudo isto muito de material [existe sempre algo de material em tudo] mas, sobretudo, de espiritual e trágico. E enquanto nos questionamos, vamos continuando o nosso caminho. Cansados, de olhar vazio, assemelhando-nos a autómatos, mas lá prosseguimos. No entanto, muitas vezes sem sabermos muito bem qual o rumo que devemos tomar.

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