segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A Rede Social



Mark Zuckerberg
Adicionar como Amigo


«A Rede Social» fala-nos do momento da concepção da maior rede social do planeta, o Facebook. Só este pormenor, por si só, seria catalisador da atenção de milhões e milhões de utilizadores de tão importante plataforma digital, mas, ao mesmo tempo, colocava o realizador David Fincher perante um problema de aparente difícil resolução: como iria este contornar a questão de dar algo mais aos espectadores de cinema que a muita informação sobre Marck Zuckerberg (o autor da rede) e sobre o próprio Facebook já disponível um pouco por toda a parte? Mas a primeira resposta a esta dificuldade foi dada por Aaron Sorkin, o argumentista, que embora se tenha baseado na obra «The Accidental Billionaires», de Ben Mezrich, trabalhou os dados muito à sua maneira com vista à obtenção de um objectivo final, a satisfação dos espectadores. E sem desvendar já tudo, a solução está aí e agradará provavelmente a todos aqueles que apontam o dedo a muitos dos utilizadores da Internet: pelo que o filme mostra, Zuckerberg é para Sorkin um jovem com dificuldade para se relacionar socialmente, de genialidade obsessiva e vingativo. No entanto, entre a verdade dos factos e aquilo que é a dramatização ficcional dessa realidade, está aí um filme poderoso que não deve deixar de ser visto por quem quer que seja, utilizadores ou não do Facebook.
David Fincher tem somente 48 anos de idade mas possui já no currículo alguns dos filmes da vida de muito boa gente («Sete Pecados Mortais» 1995, «Clube de Combate» 1999 e  «Zodiac» 2007 estão nesta lista) assim como outros títulos não menos importantes («Allien 3» 1992, «O Jogo» 1997, «Sala de Pânico» (2002) e «O Estranho Caso de Benjamin Button» 2008). Daí que deste americano nascido no Colorado se espere sempre o melhor. E com «The Social Network», no seu título original, Fincher constrói um filme onde estão bem patentes a amizade, a traição, a desolação e a alienação que acompanham o mais jovem multimilionário do mundo, precisamente Marck Zuckerberg, o criador do Facebook essa tal rede virtual de amigos de que todos falam e de vertiginosa propagação universal.
Há no entanto uma história de vida por detrás da lenda. E essa, a história de vida, começa precisamente quando Erica (Rooney Mara) diz a Zuckerberg (Jesse Eisenberg) que um dia ele irá ficar sozinho por ser um cretino, enquanto prepara ela mesma o rompimento da relação que até então mantinha com o jovem. Daqui para a frente, através de fragmentos dos diversos acontecimentos e até à consolidação de Zuckerberg como o genial criador do Facebook, Fincher conduz a câmara à velocidade da inteligência superior do estudante de Harvard sem nunca esquecer a estranheza e complexidade da sua personalidade. E mais do que dar a perceber que a chave para um bom negócio é a correcta identificação das necessidades das pessoas ou que as elites reagem com agressividade quando vêem o seu poder ser colocado em causa, «A Rede Social» de David Fincher é o relato dramático de uma tragédia pessoal: a de um rapaz que tem tudo aquilo a que não dá importância, o dinheiro,  a sagacidade de uma mente invulgarmente capaz e um poder quase sem limites, mas que perde provavelmente aquilo que o faria mais feliz: o seu único amigo real (um excelente Andrew Garfield) e a já citada Erica, a sua namorada.
Será que o criador do Facebook é aquele rapaz que quase sem fazer por isso ou mesmo involuntariamente se revela um autêntico cretino? E que apesar do seu brilhantismo é um jovem solitário incapaz do amor e da amizade? Ou será que os criadores de «The Social Network», nomeadamente o seu argumentista, quiseram através de Marck Zuckerberg caracterizar uma comunidade que ama e faz amizades tanto quanto destrói relacionamentos à distância de um clique? São perguntas necessárias intelectual e emocionalmente mas que para o deve e haver final nas contas do filme pouco importarão. Até porque estes foram factores importantes para que este seja um filme fácil de se gostar. É que na sua desorientação perante algo que criou mas cuja realidade parece ultrapassá-lo, Zuckerberg acaba por se revelar um ser humano como qualquer outro.Apesar dos muitos amigos no Facebook, frágil perante a solidão que o envolve. E a pergunta final é óbvia, por acaso será que alguém conhece por aí uma história parecida com esta?

«The Social Network», de David Fincher, com Jesse Eisenberg, Andrew Garfield, Justin Timberlake e Rooney Mara



Sem comentários: