domingo, 14 de novembro de 2010

O cansaço dos dias

[Pintura de Andrew Wyeth]




Sentia-se demasiado cansado naquele dia. Era tarde e a noite caíra sorrateiramente sobre a cidade, o demasiado calor para a época  anunciava a tempestade e o vento forte fazia estremecer a sombra das árvores numa dança estranha no negrume do pavimento. Deixou-se ficar sentado na noite a ouvir o silêncio poético que antecipava a intempérie. Enquanto escutava, adormeceu. E sonhou. Uma mulher sorriu-lhe no sonho. Estava linda no seu sorriso, aquela mulher. Um cão latiu ao longe, os travões de um carro que parara no semáforo a pouco mais de cem metros de si chiaram, a noite já então fizera esquecer completamente o dia, acordou. A mulher já lá não estava, desvanecera-se no acordar dele. Entretanto, na esquina da rua uma velhinha que há muito enlouquecera pôs-se a cantar.