sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O velho e o mar







Poucos serão os que não conhecem a obra-prima de Ernest Hemingway, «O Velho e o Mar». Nesse pequeno livrinho onde se conta a história de um pescador cubano a pescar sozinho, e há mais de oitenta dias sem conseguir um único peixe até que se depara com um enorme peixe-espada, a narrativa é tão simples e ao mesmo tempo tão cativante que o desespero de ambos na luta pela sobrevivência, peixe-espada e pescador, acaba por se tornar num espantoso ensaio sobre a condição humana. E à chegada ao porto não é difícil imaginar a ambiguidade do sorriso do velho e pobre pescador, ele que dominou a sua presa mas dela lhe restaram apenas o rabo, a espinha e a cabeça. Apesar do seu dramático triunfo, Santiago sorri na inevitabilidade daquilo que faz e que é, afinal, a razão para continuar a sentir-se útil, vivo. E não é por acaso que durante o seu isolamento nas águas do golfo em busca do sustento, o velho homem questiona a sua condição de pescador para logo a seguir concluir que nasceu para aquilo mesmo. E essa é muitas vezes a diferença entre a literatura e a vida. Porque na literatura mesmo os homens e mulheres que falham o fazem perseguindo o seu destino. E são, de certo modo, pessoas felizes porque fazem aquilo para que desde sempre se sentiram predestinadas. O facto faz-me pensar na vida real, aquela que vivemos fora dos livros. Porque muitas vezes criado pelos próprios, um conjunto de condicionantes obriga a que muitos de nós vivamos e trabalhemos bem longe daquilo que nos faria de certo pessoas bem mais realizadas. E, já agora, mais felizes.

4 comentários:

Rubi disse...

Um belo livro. Deambulei por Havana à procura do espírito de Hemingway...

redonda disse...

Foi um dos livros adoptado para disciplina de Inglês quando estava no liceu. Lembro-me de que gostei de o ler e me pareceu demasiado pequeno.

JL disse...

Rubi, tenho a certeza que o espírito de Hemingway ainda deambula por Havana. Tanto quanto os encantos de Havana mexeram com Hemingway. Um beijo. :)

JL disse...

Quando gostamos muito de algo e esse algo acaba ficamos sempre com a sensação de que não nos bastou, Gábi. Apesar disso, «O Velho e o Mar» é mesmo uma grande história num pequeno livrinho.

Beijo.