domingo, 31 de outubro de 2010

9








Às portas do Inferno

No ocaso da vida, um cientista cria nove bonequinhos tecnologicamente movidos e envoltos numa pele feita de um tecido rude. Na sua quase inacreditável expressividade e inocência, esses bonequinhos são o único rasto com vida da passagem do homem pela Terra. Num futuro indefinido e apocalíptico reina a desolação e as máquinas, suprema e terrível criação do ser humano, continuam a sua destruição sendo que o alvo principal é agora o pequeno grupo de bonequinhos de serapilheira liderados pelo 9. Visualmente espantoso mas carente de um argumento sólido que desse outro impacto às preocupações sobre o carácter destrutivo da ambição humana, assim acontece «9», o filme.

«9» começou por ser uma curta-metragem de animação nomeada aos Óscares há um par de anos. Com o apoio do genial Tim Burton, o realizador Shane Acker conseguiu convencer os estúdios a produzirem uma longa-metragem suportada no mesmo material. E se a indústria do cinema de animação dá dois passos à frente em termos formais e de matéria-prima para a sua execução, a verdade é que enquanto unidade fílmica, «9» resulta contraditório. Trabalhando a decadência do ser humano enquanto espécie, nas referências aos nazis e ao carácter dogmático da religião parecem residir os alvos principais da fúria da realização. No entanto, a narrativa revela-se demasiado metafórica apesar da simplicidade das suposições a que obriga o espectador.

Mas é pena. Isto porque «9», feito de máquinas e bonecos de trapo, é um dos filmes mais humanos que vi nos últimos tempos. E em momento algum esquece que para se criar algo de bom tal terá que ser feito com… alma. E eu concordo em absoluto. É na alma de cada um que reside o maior poder. O resto resume-se unicamente a convenções e grilhetas que o homem inventou para se proteger na sua debilidade. Mas tal como as máquinas em «9», que se rebelaram contra o homem, também o sistema já não o serve. Oprime-o.



«9», de Shane Acker, com Elijah Wood, Christopher Plummer, outros





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