domingo, 31 de outubro de 2010

Avatar





O Triunfo do Amor





Ao escrever sobre «Avatar» sinto-me desde logo enredado num conflito entre a razão e a emoção. Porque se em termos emocionais quero ser simpático com a mais recente super-produção de James Cameron, em termos racionais sou obrigado a distinguir o que é verdadeiramente espectacular e o que fica muito aquém daquilo que seria desejável. Porque se «Avatar» é inatacável no plano técnico atingindo uma beleza plástica que transporta o espectador para um espectáculo visual quase sem precedentes, já no aspecto argumental o filme não passa de uma amálgama de lugares-comuns. Dir-se-ia que James Cameron, que para além da realização assinou o guião do filme, se preocupou em demasia com a magia técnica – que também é uma das principais características do cinema – esquecendo um pouco as suas personagens, pouco trabalhadas porque demasiado vistas noutras vertentes, e a história toda ela absolutamente previsível. Ainda assim, o filme tem um indiscutível trunfo na questão argumental: consegue fazer com que o espectador tome partido, com que este entre na história. E esse já é um mérito relevante que joga a seu favor.



Jake Sully (Sam Worthington) é um antigo fuzileiro que se encontra incapacitado numa cadeira de rodas mas que é lançado para uma missão num planeta distante habitado pelos Na’vi substituindo o seu irmão entretanto assassinado. A sua missão, sob as ordens da cientista Grace (Sigourney Weaver), é a de procurar estabelecer relações diplomáticas com o povo indígena assumindo para o conseguir uma transmutação física que o torna igual a estes. Apesar das boas intenções, Jake tem alma de fuzileiro e acaba por estabelecer um acordo com o Coronel Miles (Stephen Lang), um militar empedernido, dando-lhe informações preciosas que irão permitir que este lance um ataque bélico que em momento algum pretendeu evitar. Mas como nestas coisas o coração manda mais que a razão, Jake caba por se apaixonar por Neytiri (Zoë Saldana), uma Na’vi pertencente ao clã dominante. Mas, fatalmente, o choque de civilizações acontece e Jake vai procurar refazer aquilo que ajudou a destruir.



A partir daqui tudo acontece de acordo com os livros, se é que me faço entender. Destaco no entanto dois momentos fundamentais no decorrer do filme. Um deles tem a ver com todo o percurso de autoconhecimento de Jake junto do povo Na’vi. É por esta altura que o amor acontece e é também nesta fase que o espectador começa a identificar-se e a tomar partido por uma civilização muito ligada ao misticismo e à natureza. O outro momento a destacar está ligado ao feroz ataque movido pelo Coronel Miles, ele que é um militar de corpo inteiro, excessivo e verborreico como convém, um brutamontes de carreira. E como não é homem para brincadeiras quer terminar a batalha antes que anoiteça para poder voltar e jantar calmamente em casa. O grau zero em termos de originalidade atinge aqui um ponto alto. É que talvez o filme tivesse um outro tipo de aceitação ao nível intelectual e mesmo emocional se em vez das barbaridades próprias dos líderes militares a tentarem incentivar as suas tropas Miles fosse um homem dividido entre o dever e a razão declamando poesia enquanto mandava chacinar toda uma civilização. Assim não e restam como muito positivas a verdadeira espectacularidade do cinema em 3D e a prestação regular de todo o elenco. Do que não pode restar qualquer dúvida é que este é um filme a ver. No cinema e em 3D. Se assim não for, arrisco mesmo afirmar que será tempo perdido.





«Avatar», de James Cameron, com Sam Worthington, Zoë Saldana, Sigourney Weaver e Stephen Lang

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