domingo, 31 de outubro de 2010

Robin Hood






O herói antes de o ser


Pergunta: quem foi Robin Longstride? Resposta: foi Robin Hood, o justiceiro da floresta de Sherwood que infernizava a vida ao Xerife de Nottingham e irritava o Príncipe John. Diga-se também que Robin Longstride é o filho único de um pedreiro que afinal foi filósofo sentenciado à morte por incitar os pobres e fracos a lutarem e a não desistirem dos seus direitos e sonhos. Mas convém ainda acrescentar, como ajuda suplementar para melhor percepção do fenómeno, que este acaba por ser unicamente o Robin Hood do realizador Ridley Scott, um Robin Hood que surge como simples arqueiro ao serviço de Ricardo Coração de Leão, rei de Inglaterra. Para clarificar ainda mais as coisas, é bom que se diga que estamos afinal a conhecer o homem por detrás da lenda. E que Longstride, um plebeu, por obra e graça do destino acaba por se travestir de fidalgo e ser ele a entregar à rainha mãe a espada de Ricardo I como prova da sua morte ocorrida no cerco a um castelo em terras de França.

As más notícias não acabam por aqui já que é minha convicção que parte de leão do semi-fracasso que constitui este «Robin Hood» se dá exactamente pelo exposto anteriormente. Ou seja, porque é bem provável que o espectador vá em busca do ‘seu’ Robin dos Bosques e se depare com um herói muito diferente daquele que conhece. Diferente da lenda e pouco de acordo com os factos históricos, embora esta seja uma questão lateral de somenos importância. E mesmo que quisesse ser benevolente com o filme já que este até tem bem delineados o herói, pela sua coragem e pelo seu carácter, e os vilões não faltando a donzela por quem o protagonista se irá apaixonar, a realização de Ridley Scott revela-se de tal modo convencional que até como simples entretenimento as suas mais de duas horas de duração acabam por fazer diluir um pouco essa importante dimensão do cinema. E o aborrecimento só não é geral graças a um excelente leque de actores, desde Russell Crowe a Max von Sydow passando por Cate Blanchett, e a uma bem urdida teia de conspirações que levam à acção e intriga.

De facto, «Robin Hood» não acrescenta nada de novo ao cinema e é mesmo muito parecido com «Gladiator» (2000). Mas isto numa escala bastante inferior até porque no filme em que Russell Crowe arrebatou o Oscar de Melhor Actor existia um vilão de peso a desequilibrar a balança a seu favor: Joaquin Phoenix. E perante o academismo do trabalho de Ridley Scott, custa a acreditar que em 1982 este mesmo homem tenha realizado um dos títulos fulcrais do cinema de ficção científica: «Blade Runner». Assim, «Robin Hood» perde-se na sua ambição reduzindo-se a um mero produto do cinema comercial de expressão menor. E para sermos justos há que perceber que nem sequer faz qualquer sentido tecer comparações com Errol Flynn e Olivia de Havilland em «The Adventures of Robin Hood» (1938), de Michael Curtiz e William Keighley, esse sim, um Robin dos Bosques de acordo com a lenda e com aquilo que se espera do grande cinema.


«Robin Hood», de Ridley Scott, com Russell Crowe, Cate Blanchet e Max von Sydow

 

















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