domingo, 31 de outubro de 2010

O Lobisomem












A bela e o monstro



Que se pode dizer de um filme que manda às malvas o fascínio enigmático e receoso pelas histórias de lobisomens transformando uma suposta história de medo numa espécie de ‘fast food’ cinematográfico? Pouco, muito pouco, a não ser lamentar as presenças de actores do calibre de Anthony Hopkins e Benicio del Toro no elenco, o que faz com que muitos incautos se desloquem a uma sala de cinema para ver não mais que mera animação digital, uma ambientação à Inglaterra vitoriana e uma fotografia apropriadamente gótica. De resto, já sabíamos que o homem se transforma em lobo nas noites de Lua cheia, que a sua mordida deixando a vítima viva faz nascer uma nova besta e que nestas coisas fica sempre bem uma bela (Emily Blunt) atraída por semelhante bicheza (Benicio del Toro).



No limite, «O Lobisomem», de Joe Johnston, nem sequer poderá ser acusado de ‘pastiche’ porque a sua dimensão cinematográfica roça a nulidade. Os efeitos especiais são muito pobres e a extensão do medo mede-se pelos quilos de carne humana projectada pelos ares de uma aldeia dos tempos de Jack, o Estripador, e ainda pelos muitos litros de sangue que jorram dos cantos da boca do ‘animal’. Não percebemos é onde e quando Lawrence (Toro) começa a interessar-se romanticamente por Gwen (Blunt) e até que tipo de atracção esta exerce sobre Sir Talbot (Hopkins). E não percebemos porquê? Simples, porque as personagens são psicologicamente vazias e o drama inexistente. Tarefa quase heróica é a de quem ousa manter-se na sala até surgirem na tela os créditos finais do filme. É que por essa altura, já não se resiste a tantos braços e pernas decepados, às vísceras humanas arrancadas à dentada sem dó nem piedade e a aldeões esgadanhados a correrem que nem parolos para uma morte certa. Mas, porque se trata de uma morte rápida, há até mortes bem piores. Valha-nos isso e a quem duvide do que aqui se afirma valha-lhes S. Tomé: vão ver para crerem.



«The Wolfman», de Joe Johnston, com Anthony Hopkins, Benicio del Toro e Emily Blunt


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