domingo, 31 de outubro de 2010

O cineasta da palavra





Eric Rohmer, 1920 – 2010





Para muitos Eric Rohmer representava um cinema difícil sendo tido pelos especialistas como um cineasta representante do moralismo que gostava de vaguear pelo interior do romantismo alemão ou das pinturas medievais. Morreu hoje quase a completar 90 anos de idade.



Para quem não sabe, Rohmer (o seu verdadeiro nome era Maurice Scherer) foi antes de tudo um fabuloso ensaísta, tendo analisado ao pormenor as obras de F. W. Murnau, Alfred Hitchcock e Roberto Rossellini, e um fervoroso crítico de cinema escrevendo para a conceituada revista «Cahiers du Cinema» onde foi também editor e chefe de redacção. Foi ainda jornalista e professor.



Do que conheci da obra de Rohmer, prefiro destacar um esquema quase obsessivo que o autor adoptou numa série que ficou conhecida como «Contos Morais» [mais tarde o realizador erigiria ainda uma segunda série designada de «Comédias e Provérbios»]. Nesses filmes, há sempre um homem que se apaixona por uma mulher, tem uma relação fugaz com uma outra para posteriormente voltar ao objecto inicial da sua paixão. A acção é quase nula e é uma voz ‘off’ que vai relatando os estados de alma e as intermitências do amor numa linguagem que muitos acharão demasiadamente cuidada mas que era a marca pessoal do peculiar cineasta. Ele que não se desviava um milímetro da sua arte. Nos seus filmes, Rohmer nutria ainda uma especial afeição por mulheres muito jovens. Na sua última obra, exibida em Portugal pela mão de Paulo Branco e da sua Atalanta Filmes, “Os Amores de Astrée e de Celadon” (2007), Rohmer não fugia ao seu estilo muito próprio filmando a exaltação da palavra e explorando um certo erotismo campestre. Quando se fala em cinema de autor, é a homens como Eric Rohmer que nos referimos. Goste-se ou não da sua obra. Paz à sua alma.



[«Les Amours d'Astrée et de Céladon»]

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