domingo, 31 de outubro de 2010

A Rapariga Cortada em Dois





Claude Chabrol dá e tira*






Fugindo um pouco ao formalismo próprio de uma crítica de cinema séria, que este blogue também publica críticas mas nem tudo o que nele se escreve é a sério, sempre vos digo que Claude Chabrol, cineasta francês de «Les Biches», entre muitas outras obras de destaque do cinema francês, realizou em 2007 um filme com o peculiar título de «A Rapariga Cortada em Dois» e eu, graças a um DVD que fizeram o favor de me emprestar, só agora o vi.



A atirar a Woody Allen ou mesmo a Hitchcock, o argumento desenvolve-se por conta de uma jovem meteorologista, Gabrielle (Ludivine Sagnier), que se apaixona por um escritor já perto dos 60 anos de idade, Charles Saint-Denis (François Berléand) e acaba por casar com um jovem herdeiro, Paul Gaudens (Benoît Magimel), tão desequilibrado quanto o peso – que é muito elevado - do dinheiro da família.



Apesar de nos acenar com a bandeira da grandeza de um amor que quebra barreiras de idade (a paixão da bonita Gabrielle pelo escritor) e sociais (o magnata da indústria farmacêutica que se apaixona pela filha de uma modesta empregada de livraria), a realização de Chabrol revela-se maquiavélica já que acaba por não nos conceder nem um nem outro cenário: o escritor não deixa a mulher pela jovem apesar de apaixonado e a família abastada nunca chega a aceitar a plebeia no seu seio. O filme progride e há ainda umas quantas histórias por contar mas que para este texto deixaram de ter importância.



Ou seja, por que razão é que os realizadores da velha escola do cinema europeu se mantêm tão pessimistas que se limitam a filmar a realidade tal qual a pressentem, adicionando-lhes – neste caso particular - uma pitada de mistério policial e outra de conflito psicossocial? Meus caros, está na hora de apostar em força no amor derrubando barreiras e conquistando novos terrenos. Caramba, se a vida já é tão aborrecida para tantos para quê confrontá-los com essa mesma pasmaceira? No fim, Chabrol não resiste à consumação prática do simbolismo do título que deu ao seu filme e corta a pobre rapariga em dois num número de ilusionismo ao jeito de nem tudo o que parece é. Não havia necessidade.







[*Quem dá e depois tira, sempre o ouvi dizer, ganha um lugar bem quentinho no inferno; caramba, Chabrol, onde estavas com a cabeça?...]





La Fille Coupée en Deux
, de Claude Chabrol, com Ludivine Sagnier, Benoît Magimel e François Berléand

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