domingo, 31 de outubro de 2010

Sherlock Holmes







O Sherlock Holmes de Guy Ritchie: Os músculos no lugar dos neurónios





Para quem seja fã do Sherlock Holmes que Sir Arthur Conan Doyle trouxe para o mundo da literatura e dos detectives, esqueça este «Sherlock Holmes» do realizador britânico Guy Ritchie. Porque o introvertido mas arrogante e cerebral Holmes que habita o Nº 221 da Baker Street, em Londres, transformou-se num herói de acção, musculado e lutador entre outros atributos físicos que se sobrepõem às suas excepcionais capacidades dedutivas. Facilmente será pois de concluir que o filme do britânico que realizou em 2000 «Snatch – Porcos e Diamantes», na minha opinião uma das melhores comédias de sempre, e que fizera recair sobre si os olhos dos cinéfilos de todo o mundo com a sua longa-metragem inaugural «Um Mal Nunca Vem Só» (1998), chutou para canto a personagem da literatura que dá nome ao filme e criou uma outra fruto do seu espírito inventivo e dos argumentistas ao seu serviço.



Poder-se-ia mesmo falar em publicidade enganosa não fosse dar-se o caso de andar pelo filme um tal de Dr. Watson (Jude Law) fiel ao original e ao seu amigo Holmes (Robert Downey Jr.) e a igual presença do pobre Inspector Lestrade (Eddie Marsan) que surge como o irremediável polícia incompetente e apalermado perante a destreza mental (e física) do seu rival da investigação privada. Também a predilecção pelo boxe por parte de Sherlock Holmes (e tão do agrado de Ritchie) e a sua paixão pelo violino não são esquecidos pela realização, o que traz ao filme um pouco do aroma dos livros.



A história inicial anda à volta dos assassinatos de belas e jovens virgens por parte de um tal Lord Blackwood (Mark Strong) com recurso à magia negra e desenvolve-se em redor de uma organização secreta com fundações no mundo da política a que o assassino aspira presidir. Pelo meio, a bela Irene Adler (Rachel McAdams) traz para a trama o elemento feminino, ela que é uma mulher atraente mas sinuosa que dribla o desejo que o detective Sherlock tem por si enganando-o sem dó nem piedade sempre que existe essa possibilidade apesar de ser o indefectível amigo Watson de quem Holmes não prescinde de modo algum. E que o diga a bela Mary (Kelly Reilly), a resistente noiva do médico antigo combatente de guerra.



Em resumo, aquilo que Guy Ritchie apresenta aos espectadores não passa de entretenimento puro e duro. Uma opção concepcional que resulta a espaços mas que acaba por se tornar aborrecida em certos momentos devido ao uso e abuso do estardalhaço mais de acordo com um espectáculo pirotécnico do que com um filme de bandidos, polícias e detectives de finais do Séc. XIX e inícios do Séc. XX. E se o espírito de Arthur Conan Doyle surge um pouco arredio da sua realização, já o seu próprio estilo muito mais adequado para filmar o submundo britânico em detrimento de dar a conhecer as aventuras de um investigador extraordinariamente inteligente mas arrogante em igual medida, acaba por vir ao de cima. Sobretudo nas cenas de luta, com especial ênfase no boxe e em alguns slow-motion a antecipar o decurso das cenas. É justo frisar ainda que o elenco no activo não terá defraudado as expectativas do peculiar realizador, com destaque especial para Jude Law. Parece-me no entanto muito pouco para uma super-produção que se usou de uma das personagens míticas da literatura policial para obter logo à partida um sucesso mediático que esteve longe de concretizar.







«Sherlock Holmes», de Guy Ritchie, com Robert Downey Jr. e Jude Law





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