domingo, 31 de outubro de 2010

Filme: New York, I Love You









Amar em Nova Iorque



O amor é e será sempre a maior fonte de inspiração para poetas, escritores, músicos e… realizadores de cinema. «New York, I Love You», filme em exibição nas salas de cinema, é mais um exemplo dessa inevitável realidade. O amor promove a mais comovedora felicidade mas também pode tornar-se num sentimento de dolorosa vivência. E pode muito bem acontecer de forma imprevisível numa só noite, durante uma tarde, ou apenas em um dia que não se repetirá. Mas o amor também acontece por toda uma vida. E será chegado o momento, na velhice, em que o carinho e a companhia que os dois elementos do casal se oferecem são os elementos mais importantes. Estes serão afectos simples dentro de um sentimento gigante, mas, no entanto, são elementos fundamentais para quem os vive. O amor pode ainda ser brando, ou intenso, lancinante, angustiante, apenas satisfatório, afortunado, belo. E em todas estas imagens - de um amor efémero ou duradouro, de um amor simplesmente sonhado - do amor que se vive ficará para sempre a memória de quem o viveu.



«New York, I Love You» mostra-nos precisamente as várias faces do amor numa cidade repleta de povos, plena de gentes das mais diversas origens e culturas, de seres humanos que amam como quaisquer outros. Isto, embora coexistam entre si os mais diversos contrastes numa cidade que parece albergar o mundo. Realizado por vários nomes do cinema, entre os quais a estreante Natalie Portman que também protagoniza uma das histórias, o filme surge pela mão do produtor Emmanuel Bebihy, que se mudou da cidade luz para a cidade que não dorme, e vem na continuidade do êxito de «Paris Je t’Aime». E durante a pouco mais de hora e meia que a fita dura, vemos desfilar perante nós a alegria e a tristeza, a felicidade e a busca dela, a ansiedade e o descontentamento, a entrega e a procura. Observamos também como a hesitação acaba por arriscar impossibilitar o amor, e, quem não o vivenciou já, como a alegria anda de mãos dadas com a dor. Comodamente sentados na sala de cinema, somos levados a sentir alguma inquietude ao arriscarmos viver na pela as histórias dos diversos amantes. Imaginamos o que nos aconteceu no passado, como estamos a gerir o presente, mas também naquilo que poderá tornar-se o futuro dependendo das opções que tomarmos para ele. E ao racionalizarmos a questão do amor, estamos também a senti-lo. A sentir o amor mas também o filme. E o cinema, que nos proporciona momentos únicos de emotividade.



O filme homenageia o realizador Anthony Minghella, inesperadamente falecido já durante este ano. E quis o destino que uma das histórias mais tocantes das várias que vemos desfilar na tela, fosse precisamente aquela que Minghella deixou escrita. Num velho quarto de hotel, uma cantora lírica (Julie Christie) volta a Nova Iorque para recordar e, quiçá, exorcizar fantasmas do passado. É recebida por um criado aleijado (um extraordinário Shia LaBoeuf) que faz de tudo para a manter feliz e confortável orgulhoso de hóspede tão digna. Momentaneamente, as violetas tornam-se numa personagem do filme e a ambiência que se vive caracteriza-se por uma melancolia estranhamente suave. Entre uma taça de champanhe que comemora a felicidade do regresso ao hotel e uma brisa fresca que obriga ao fecho da janela do quarto, o drama acontece. Ou a memória dele. O resto é para descobrir no filme, mas diga-se que este segmento se designa de «Hotel Suite» e foi realizado por Shekhar Kapur, tendo ainda a participação do actor John Hurt. Durante o desenvolvimento da história, é quase impossível não deixar de sentir um arrepio na espinha. Entre a nostalgia de Isabelle (Julie Christie), os olhos tristes de Jacob (Shia LaBoeuf) e a resignação amargurada da personagem de John Hurt, suspeitamos que algures na vida das personagens o amor foi interrompido pela presença da morte. E, inevitavelmente, a tristeza apodera-se também do espectador.



Para finalizar, refira-se que o filme é constituído por uma matriz de narrativas. Mas o tema central, o amor, as relações amorosas, acaba por se unir nas diversas histórias ao local singular onde tudo acontece, a cidade de Nova Iorque. E nesta unidade de estilo, nesta recolha de vidas, decorre também parte importante da nossa. Porque é de pessoas que o filme fala. De pessoas como nós, de pessoas tão perto de nós. A não perder.
















«New York, I Love You», de Jiang Wen, Mira Nair, Shunji Iwai, Yvan Attal, Natalie Portman, Brett Ratner, Allen Hughes, Shekhar Kapur, Fatih Akin, Joshua Marston, Randy Balsmeyer, com Bradley Cooper, Hayden Christensen, Andy Garcia, Rachel Bilson, Natalie Portman, Irrfan Khan, Orlando Bloom, Christina Ricci, Maggie Q, Ethan Hawke, Anton Yelchin, James Caan, Julie Christie, John Hurt, Shia LaBeouf, Chris Cooper, Robin Wright Penn, Eli Wallach e Cloris Leachman

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