domingo, 31 de outubro de 2010

Fora de Controlo












Um cidadão exemplar



Oito anos depois, o actor que se celebrizou como Mad Max e posteriormente teve uma carreira plena no cinema desde produtor a realizador, regressa finalmente aos filmes. Neste seu retorno à interpretação, Mel Gibson surge de um modo como se dispensasse qualquer tipo de maquilhagem ao fazer de Tom Craven, um detective da brigada de homicídios que vê morrer a filha num disparo que de início julgou ser direccionado a si. A partir daqui, o detective parte para uma investigação onde parece procurar as mais diversas razões para não prosseguir vivendo. E com o desenrolar das pesquisas que faz, acabará por descobrir aquilo que jamais suspeitava e encontrar o que tão incessantemente procurava.



«Edge of Darkness» é a adaptação de uma mini-série britânica datada de 1985. E apesar do filme cumprir com o objectivo primordial do cinema, o entretenimento do espectador, a verdade é que não lhe acrescenta quase nada e se perde no confronto com as actuais séries televisivas já que não consegue adoptar uma linguagem cinematográfica própria. A começar porque não existe no filme um verdadeiro esquema narrativo. Que quer isto dizer? Significa que as diversas personagens vivem em função do desenvolvimento da trama e nunca se percebe de onde vêm e aquilo que as motiva para além das ocorrências da acção. E isso pesa no final do filme já que o espectador corre o risco de sair da sala com uma forte sensação de que tudo o que viu lhe soube a muito pouco. Se concluirmos ainda que o final do filme se torna óbvio pelas evidências que o antecedem, então estamos conversados quanto a um inexistente interesse superlativo deste «Fora de Controlo».



Ainda assim, há na história que se conta uma aura de tristeza e de contestação aos meios obscuros de que o poder se usa para levar em frente projectos que certamente a opinião pública condenaria caso deles tivesse conhecimento. E esses méritos devem ser reconhecidos. A somar a isto, para além das presenças pujantes de Danny Huston e Ray Winstone, dois secundários de luxo, passeia-se pelo filme um detective possuidor de irrepreensíveis códigos morais e de conduta protagonizado por um Mel Gibson esquecido de si para poder chegar ao coração dos espectadores. Tom Craven (Gibson) não é nenhum herói nem um polícia especialmente brilhante. É apenas um profissional competente e honesto que acredita em princípios basilares num mundo onde cada vez mais só são admitidos os muito maus e os muito bons. Um mundo sem espaço para aquelas pessoas que sobrevivem num espaço intermédio e apenas querem levar uma existência digna no cumprimento dos seus deveres. E de certo modo o filme homenageia estes ilustres anónimos acabando por ser esse o seu maior trunfo.



«Edge of Darkness», de Martin Campbell, com Mel Gibson, Bojana Bokakovic, Danny Huston e Ray Winstone


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