domingo, 31 de outubro de 2010

O Estranho Caso de Benjamin Button





Meet Benjamin Button?







Enrugado e a sofrer de artrites como se fosse um velho de 80 anos, é desta forma assustadora que nasce um menino que mais tarde receberá o nome de Benjamin. «O Estranho Caso de Benjamin Button» é a história de um homem que percorre a vida em sentido oposto já que nasce velho para morrer bebé. É também o mais recente filme de David Fincher, cineasta de «Se7en», «O Jogo», «Clube de Combate», «Sala de Pânico» e «Zodiac» o que significa que esta incursão no melodrama está nas antípodas dos seus (excelentes) filmes anteriores. Isto não sem que se percebam desde logo dois pormenores tão dramáticos quanto maquiavélicos do argumento: primeiro porque na sua estranha doença (que não existe na realidade) Benjamin Button tem marcado à partida o dia da sua morte uma vez que esta ocorrerá obrigatoriamente quando chegar a bebé; e ao longo da odisseia em que irá constituir-se a sua existência, nunca ele se poderá socorrer dos conhecimentos empíricos normais em qualquer outro ser humano que o ajudariam a uma melhor qualidade de vida. Porquê? Porque o seu caminho é percorrido de trás para a frente sem que tenha vivido as experiências normais do crescimento.



Benjamin Button (Brad Pitt a fazer lembrar a sua personagem em «Conhece Joe Black?») é, por todas as razões enumeradas, um ser humano frágil. E quanto a mim esse é o maior trunfo do filme, o que leva a que este atinja um plano muito elevado em questão de sensibilidade dramática. Benjamin conhece Daisy (Cate Blanchett) enquanto miúdos e as suas vidas confluem no que se poderá designar como evolução física por volta dos 40 anos de idade. E se para ele a verdade do coração é a única que importa, isso não significa que perca a consciência da necessidade que irá ter de abdicar do amor da mulher que o faz verdadeiramente feliz. E essa renúncia ocorre sem que o filme perca qualidades naquilo que mais procurou alcançar: humanismo e sobriedade dramática.



A vida não é, não pode ser, apenas uma viagem cruel e desprovida de sentido para a morte. A vida é feita de sonhos, de partilha, de cumplicidade. E a não ser por um breve período de tempo num percurso que vai desde os 80 anos até se extinguir no início, na idade de bebé, tudo isso será negado à personagem de Benjamin Button. E apesar do reconhecimento desta componente humanística forte que o marca, o filme perde por falta de ritmo na acção inicial. Nesta fase mais pachorrenta, o interesse reside apenas na admiração que é devida ao fabuloso trabalho de maquilhagem conseguido com Cate Blanchett mas sobretudo com Brad Pitt. E o que resulta de tudo o que neste texto se afirma, encontra-se na conclusão de mais uma vez estarmos na presença de um filme a ver quase exclusivamente com os olhos do coração. Isto sobe pena de perdermos toda a emotividade de uma história de vida tão atípica quanto tocante.








The Curious Case of Benjamin Button, de David Fincher, com Brad Pitt, Cate Blanchett, Julia Ormond e Elias Koteas

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