domingo, 31 de outubro de 2010

Ponto de Mira





Permita-se-me a liberdade da analogia, mas há cinema que funciona um pouco como um dia alguém caracterizou a denominada música pimba: tão depressa entra como sai do ouvido. «Ponto de Mira» tem precisamente atributos paralelos. É que depois de terminar a película e no ecrã surgem os créditos finais já ninguém se recorda ou sequer se importa com o que acabou de assistir. E cinema assim é, no mínimo, dispensável.



Se observarmos que pelo filme passam nomes grandes do cinema norte-americano como Sigourney Weaver (completamente desajustada no seu papel de realizadora de uma cadeia de televisão), Dennis Quaid (a fazer das tripas coração para tornar crível uma personagem tão gasta como a calçada da Praça Mayor em Salamanca onde, supostamente, a trama se desenvolve), Forest Whitaker (que se limita a alguns esgares de representação) e William Hurt (este sim, um actor que não sabe fazer mal) chegamos à conclusão que o povo tem razão quando diz que a albarda não faz o burro.



Sobre a narrativa basta dizer que vem na continuidade da paranóia dos americanos desde o 11 de Setembro explorando a ideia que o mundo está contra o seu povo e os seus representantes são o alvo permanente do terrorismo à escala global. A partir do pretenso assassinato do Presidente Americano ao iniciar um discurso a favor da paz (na espanhola Salamanca, imagine-se!), a realização de Pete Travis, um novato nestas andanças, e um pouco ao estilo do mestre japonês Akira Kurosawa, apresenta o sucedido através do olhar de variadas personagens quer com participação activa nos actos ou meras testemunhas do atentado. Pelo meio há uma perseguição automóvel tão vertiginosa como inverosímil mas que tem o condão de libertar o espectador de um tédio que ameaçava tornar-se em inevitável sonolência.



«Vantage Point» não passa, afinal, de um mero e sofrível objecto de puro entretenimento que não deveria ter saído das fronteiras norte-americanas. Isto porque jamais consegue que a ameaça terrorista se manifeste real e assustadora, as personagens não passam de meros estereótipos de inúmeros filmes do género e é tudo tão irreal que até a cidade de Salamanca foi filmada através dos cenários criados algures no México. Estamos então conversados sobre a quem deve interessar mais um sucesso virtual das forças norte-americanas contra o flagelo do terrorismo. E quando ele deixar de existir é simples, inventa-se.



Vantage Point, de Pete Travis, com Dennis Quaid, William Hurt, Forest Whitaker e Sigourney Weaver




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