domingo, 31 de outubro de 2010

As Flores de Harrison











As Flores de Harrison





Não por acaso, numa altura em que denoto existirem alguns ataques aos repórteres fotográficos e demais jornalistas a propósito da tragédia que ainda decorre no Haiti, revi em DVD um filme que relata o drama de um casal de jornalistas igualmente num cenário dramático. Embora, neste caso, uma tragédia, a da guerra, provocada pelo homem. Refiro-me a «As Flores de Harrison», realizado no ano 2000 por Elie Chouraqui.





Essa guerra, catastrófica e ainda tão recente na nossa memória colectiva, ocorreu na ex-Jugoslávia e é a partir dela que se desenvolve a narrativa. O culto do ódio e a propagação desmedida do sofrimento através das atrocidades cometidas entre seres iguais, são ilustrados pela realização no acompanhamento de uma mulher que se recusa a acreditar na anunciada morte do marido, um repórter fotográfico americano. Sarah Lloyd (Andie MacDowell) é jornalista em Nova Iorque e mãe de dois filhos. Às evidências que lhe são proporcionadas para que cresse na morte do marido basta-lhe opor o forte sentimento que nutre por ele. Decidida, parte para Osijek, no norte da Croácia, em sua busca. Acompanhada doutros repórteres fotográficos, que a ajudam, ela caminhará perigosamente até Vukovar. Nesse trajecto, testemunhará a violência e brutalidade de uma guerra alimentada por rancores e angústias que culminam numa invulgar moral predadora do homem.





O filme não é perfeito e lamenta-se até a opção pela ruidosa vertente bélica em detrimento da história de amor que a suporta. Apesar disso, sem nunca se deixar perder na violência gratuita a acção coloca o espectador perante a gravidade do conflito civil, étnico e religioso que se viveu naquela região europeia e torna-se inevitável a existência de uma intensa ambiência de discórdia e fatalidade. O drama colectivo que é exposto pela obsessiva busca que o drama pessoal proporciona, o de uma mulher em busca do homem que ama, atinge um carácter perturbador. Os actos de guerra são atrozes mas credíveis e apesar dos 130 minutos de duração do filme este nunca se revela monótono no seu desenvolvimento. A par da esplêndida fotografia, realce-se o prestigiado elenco: Adrien Brody («O Pianista»), Elias Koteas («Crash») e, no papel principal, a actriz que um dia o filme «Sexo, Mentiras e Vídeo» catapultou definitivamente para uma valorosa carreira no cinema, a já referida Andy MacDowell. Em suma, «As Flores de Harrison», mais que um filme sobre o amor ou sobre a guerra, é um filme de muito humana esperança passado num cenário onde a humanidade entre os homens, pelo contrário, já não é sequer uma esperança. Um filme duro, sem dúvida, mas extremamente comovedor que aconselho sem reservas a quem não tenha receio de olhar a tragédia numa vertente pouco habitual e longe dos noticiários televisivos.

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