domingo, 31 de outubro de 2010

O Delator






Banhas, mentiras e cassetes manhosas







Depois de um início de carreira auspicioso com «Sexo, Mentiras e Vídeo», e, pelo meio, com outros sucessos na algibeira como «Traffic», «Erin Brockovich» e a saga «Oceans Eleven, Twelve e Thirteen» o realizador Steven Soderbergh continua a sua caminhada por atalhos e outros caminhos difíceis, locais esses onde podemos encontrar «The Informant», título actualmente em cartaz. E agora que está avisado, segure-se o espectador mais incauto ao banco onde acompanha o realizador nessa viagem atribulada já que compra um bilhete que supostamente o levará até aos anos 90, mas, valha a verdade, mais parece aportar nos anos 70. Ou seja, e já ao jeito de resumo prévio, a comédia dramática acaba mesmo por se transformar numa paródia que só não cai num gigantesco bocejo porque Matt Damon, o gordo e balofo Matt Damon, imagine-se, não deixa que o filme vá por aí.



A história tem base verídica e relata as aventuras e desventuras de um esquizofrénico ambicioso de nome Mark Whitacre (Damon) que não satisfeito com o seu lugar relevante de executivo numa empresa a auferir um vencimento de 350 000 dólares ano antes de impostos, resolve primeiro acusar os seus patrões de práticas ilícitas tendo-se tornado bufo do FBI para a obtenção de provas do crime, e, depois, acaba por culpar o próprio FBI de sevícias sobre a sua pessoa impoluta. Enquanto isto, a realidade dos factos que serve de inspiração ao filme é retratada por Soderbergh de um modo tão cáustico que é o próprio espectador que no final se sente tão mais estranho quanto a esquisitice daquilo a que assiste.



Posto isto, não será difícil perceber que vemos desfilar no ecrã espiões de trazer por casa, agentes da lei com formatura obtida por correspondência e empresários corruptos que, entre nós, nem para dar ainda mais colorido ao apito dourado nos serviam. Temos por cá bem melhor nesta matéria, suspeito. O filme salva-se unicamente pela prestação enérgica de um Matt Damon que engordou duas ou três arrobas para fazer este filme não perdendo com isso energia na língua, já que fala pelos cotovelos e debita mentiras ao ritmo do caudal de saída de água das condutas de Castelo Bode, uma barragem situada algures no Zêzere a poucos quilómetros de Constância.



Dir-se-á que Steven Soderbergh é um génio e que este filme o comprova. Sendo assim, eu assumo não ter estado à altura da sua genialidade já que vi o filme com bastante interesse inicial, mas entretanto este desvaneceu-se em mim e, por esta altura, já o esqueci completamente. Uma só nota final para Matt Damon que levou dois meses a recuperar a sua forma natural. Não tarda nada estamos a ouvir na rádio o anúncio tipo de uma dessas revistas do social a exortar o bom do cidadão a que «saiba como Matt Damon perdeu duas ou três séries de quilos em apenas dois meses; saiba tudo na Caras.» Ou será na VIP?







«O Delator», de Steven Soderbergh, com Matt Damon, outros

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