domingo, 31 de outubro de 2010

Alíce no País das Maravilhas





Do outro lado do espelho



Escrita por Lewis Carrol, «As Aventuras de Alice no País das Maravilhas» possui mais de duas dezenas de adaptações ao cinema. Chegou agora a vez de Tim Burton. Este, pegou em «As Aventuras de Alice no País das Maravilhas», adicionou-lhe «Alice do Outro Lado do Espelho» e fez um filme não se limitando a sonorizar as histórias e dotá-las de imagens em movimento. Isto porque «Alice in Wonderland», de Tim Burton, é a visão muito particular do peculiar e genial realizador sobre as obras de Lewis Carrol já de si repletas de simbolismos, paradoxos e mensagens subliminares. E se a história de Alice pertence ao imaginário infantil é inegável que o realizador norte-americano se dirige muito mais a graúdos que a miúdos sem no entanto deixar ninguém de fora do seu trabalho de composição. Um trabalho que é todo ele um saudável elogio à loucura. O que acaba até por ser recorrente na obra do cineasta de «Eduardo Mãos de Tesoura» (1990), «Marte Ataca» (1996), «O Cavaleiro sem Cabeça» (1999) e «O Grande Peixe» (2003) para só citar algumas das suas obras.

Alice (Mia Wasikowska) tem agora 19 anos de idade e regressa à terra onde esteve enquanto criança. Lá, ela vai reencontrar os seus velhos amigos: o Coelho Branco (Michael Sheen), Tweedledee e Tweedledum (Matt Lucas), a Lagarta Absolem (Alan Rickman), o Gato Cheshire (Stephen Fry) e o excêntrico e devoto Chapeleiro Louco (Johnny Depp). No entanto, a felicidade é então algo inexistente por aquelas bandas já que a Rainha Vermelha (Helena Bonham Carter) se apoderou do trono pela violência e à Rainha Branca (Anne Hathaway) e todos os seus anteriores amigos resta esperar que Alice possa devolver as maravilhas àquele país recheado de personagens fantásticas.

Durante quase duas horas, através das imagens em 3D, o espectador vive por dentro uma história fantástica sobre a busca que alguém efectua na tentativa de empreender o rumo certo para a sua vida. Um dos grandes desafios da realização de Burton prende-se precisamente com esse aspecto particular: o de saber até que ponto cada um de nós percebe ou não o que realmente importa nas nossas vidas através do paralelismo com o filme. Será que interessa perceber o que têm em comum um corvo e uma secretária ou será muito mais definitivo para a nossa existência determos em nós o talento capaz de não deixar que os laços importantes se quebrem ainda que cada um tenha que seguir rumos diferentes para as suas vidas? A par das sempre importantes questões filosóficas, o filme possui uma admirável qualidade artística e é de uma beleza visual cativante. É ainda de realçar que a animação em 3D está no filme ao serviço da história e não o contrário. E num filme recheado de grandes intérpretes do cinema actual, Helena Bonham Carter é talvez aquela que mais se destaca na ambiguidade de desejar o amor dos outros mas, por insegurança, acabar por optar pela política do medo. Já Johnny Depp, actor ‘fetiche’ de Burton, joga em casa dividido entre a mais completa insanidade e a emoção de dar corpo a um ser aparentemente seguro de si mas a espaços desprotegido e interrogativo sobre o meio que o rodeia.

Resumindo, «Alice no País das Maravilhas», de Tim Burton, apresenta-nos um mundo onde o sonho vira pesadelo e representa uma excelente oportunidade para alguns adultos recuperarem para si a criança que foram um dia. E, quem sabe, perceber se o caminho seguido por cada um está de acordo com os seus sonhos de menino. E não sendo segredo para ninguém, resulta curioso verificar como de um mundo aparentemente recheado de loucura se pode extrair tanto de positivo. E de belo para os olhos e para a alma.











«Alice in Wonderland», de Tim Burton, com Mia Wasikowska, Johnny Depp, Helena Bonham Carter e Anne Hathaway

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