domingo, 31 de outubro de 2010

Uma Segunda Juventude





Francis Ford Coppola pertence a uma linhagem de cineastas que só por si levam o espectador à sala de cinema. Responsável pela trilogia de «O Padrinho» e por esse grande filme de guerra que é «Apocalipse Now», entre outros, Coppola merece um crédito que este «Uma Segunda Juventude» não deita por terra mas bem tenta fazer por isso. Na verdade, o filme protagonizado por Tim Roth (actor competente mas por quem, vá-se lá perceber porquê, confesso nunca ter sentido grande apreço) e adaptado do livro escrito pelo filósofo Mircea Eliade, é uma tentativa rotundamente falhada do realizador americano se elevar a um patamar de excelência que não só foge à sua essência criativa como do qual não necessitava minimamente.



A história é transversal à vida do professor de linguística Dominic Matei (Roth) a partir do momento em que este é vítima da queda de um raio. Ironicamente, quando se preparava para pôr termo à vida através do suicídio o destino faz com que rejuvenesça até aos cerca de 40 anos. Ele que já passara dos 70. Tendo levado uma existência inteiramente dedicada à consumação da sua obra sobre as origens da linguagem humana, a Matei não sobrou tempo para viver e muito menos para o amor. Com a queda do raio e após recuperação num hospital, é-lhe então surpreendentemente concedida uma 2ª oportunidade com evidentes progressos sensoriais e cognitivos. Quando sucedem os factos, está-se em 1938 e a Europa vive o flagelo da guerra. Um cientista nazi, que desenvolvia uma teoria similar ao sucedido com o professor de linguística, obriga a que este se refugie no exílio. Enquanto isso, reencontra o grande amor da sua vida, Laura, na figura de Verónica (Alexandra Maria Lara). E também no amor, aparentemente, vê reacender-se a esperança de se redimir do fracasso da juventude.



Envolto numa opção conceptual bastante discutível, até porque a forma acaba por comprometer o conteúdo (a mensagem), o filme incorre em elementos místicos e paranormais interligados com a realidade que se tornam de difícil percepção para o espectador. Por outro lado, numa tentativa de erudição da realização a pretender fazer arte onde se pedia apenas que se fizesse cinema, a trama procura teorizar sobre a reencarnação e a cultura oriental como se estivéssemos num debate televisivo com a participação de 3 ou 4 cientistas muito capazes no seu trabalho mas tremendamente entediantes para quem os ouvisse e visse. E neste aspecto particular da busca do ensaio filosófico, Coppola age de um modo tão sensível como um elefante a passear-se numa loja de porcelanas. Grave, no entanto, é verificar que numa obra onde à partida se sugere a fantasia, o sonho, da vida numa nova vida ou da recuperação da juventude na mesma vida nunca esse desiderato é conseguido junto de quem assiste ao filme. Resumindo, o velho Francis Ford Coppola não demonstra uma segunda juventude nesta sua realização e, o que é mais preocupante, deixa mesmo no ar muitas reticências quanto ao seu trabalho agora que já não é nenhum jovem.



Cuidado, este filme deprime. Sem que seja sua intenção.





Youth Without Youth, de Francis Ford Coppola, com Tim Roth, Alexandra Maria Lara e Bruno Ganz




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