domingo, 31 de outubro de 2010

Mamma Mia





Quando, em tempos, fiz crítica de cinema com alguma regularidade, uma das primeiras lições que aprendi relativamente à dicotomia público – crítico (sim, porque ela existe) é que há filmes em que é completamente inútil procurar estruturar um texto fiável ao filme e àquilo que o hipotético especialista sente a partir do seu gosto e, fundamentalmente, da sua concepção de cinema desde que vá em sentido inverso ao da maioria. Porque as exigências de um crítico, que vê e analisa ao pormenor centenas de filmes em cada ano, são certamente diferentes e em grande parte das situações maiores (maiores? ok, batam lá no ceguinho que diz tamanha barbaridade) que para um espectador eventual de cinema. Muitas vezes, para este só a ida ao cinema já por si é um acontecimento de monta. E pode-se lutar contra isto? Não, não pode nem deve. Mas pode-se continuar a ser honesto na análise mesmo sabendo que a maioria gostou, se sentiu agradada (muito mesmo) e vai cair em cima de quem ousar dizer mal do seu objecto de estima.



Vem tudo isto a propósito de «Mamma Mia», um musical com realização desastrada de Phyllida Lloyd. Sim, sim, o filme tem uma Meryl Streep empenhadíssima em fazer boa figura, tem um Pierce Brosnan a debitar charme mas sem pingo de talento para as canções e tem ainda, entre outros, Colin Firth como peixe fora de água, Peter Skarsgard a fazer de si mesmo, Jullie Walters sem saber muito bem o que anda por ali a fazer e, essa sim, Christine Baranski a safar-se muito bem nesta tragédia grega. Tragédia cinematográfica, diga-se, que o filme é todo ele energia positiva e alegria a rodos mesmo na hora de três homens dividirem entre si a paternidade biológica da filha única de Donna (Meryl Streep).



Pese tudo isto, a fita tem as melodias dos Abba e o Sol de uma paradisíaca ilha grega. E por muito que se diga que a narrativa é indigente e que reina a mediocridade em quase toda a matéria concepcional do filme uma vez que o cinema foi substituído por uma espécie de Prozac servido em película ao invés das tradicionais pílulas, o povo não quer saber. E se o crítico resolver dar a sua opinião e esta for negativa, então é porque não percebe nada de cinema, é pseudo-intelectual ou, também se vê muito por aí nestes casos, é um chato sem bom gosto algum. Daí que, meus caros, viva «Mamma Mia», vivam os Abba e Meryl Streep também, viva o cinema que não é para aqui chamado e vivam as melodias que qualquer um pode cantar. Já agora, viva a democracia e viva a república.





Mamma Mia, de Phyllida Loyd, com Meryl Streep, Pierce Brosnan, outros;

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