domingo, 31 de outubro de 2010

Lembra-te de Mim










Rebelde sem causa



Em 1991 Ally (Emilie de Ravin), ainda criança, vê a sua mãe ser assassinada numa estação de metro na cidade de Nova Iorque. Dez anos depois Ally, já crescida, irá cruzar-se com um jovem introspectivo, amargurado pelo suicídio do irmão e desolado pela pouca atenção que Charles (Pierce Brosnan ao seu estilo mais formal), o pai, concede à sua pequena irmã, ela que tem problemas de adaptação à escola e aos colegas. Esse jovem é Tyler (Robert Pattinson), ele que já antes tivera um encontro imediato com outro pai, este o de Ally, que é um polícia algo violento e obsessivo protagonizado por Chris Cooper. Tyler tem evidentes tendências depressivas mas não deixando por esse motivo de ser a âncora numa família destroçada pela tragédia. Isto porque também a mãe (uma desaproveitada Lena Olin) parece meio perdida num conflito interior que é transversal a todos naquela família.



A partir destes factos, o filme gira todo ele em torno da desagregação quer da família da bonita Ally ou do dolorido Tyler e da paixão que vai unir os dois jovens. Contra tudo e contra todos, até contra os próprios. O argumento, que foi idealizado com precisão quase matemática, filma de modo obsessivo o rosto angustiado da estrela do momento saída dos filmes de vampiros e, numa predilecção constante pelo drama, transporta o espectador para dentro de cemitérios onde os vivos choram os mortos e para o interior cosmopolita de uma Nova Iorque de postal ilustrado onde abundam os tradicionais táxis amarelos, os bares de culto e os restaurantes de luxo que mais não servem como cenário para novas desgraças e mais razões para fabricar um forte sentimento de nostalgia. Nesta espécie de fábula urbana, fácil será de perceber que a pouca profundidade do drama que se pretende e o ‘déjà vu’ presente ao longo de todo o filme pouco importam no seu objectivo principal: fazer render o peixe. Um peixe chamado Robert Pattinson à venda junto de um público feminino sedento de imagens do seu ídolo.



E se em termos críticos seria quase um sacrilégio admiti-lo, a verdade é que em questões de sensibilidade pelo que são as necessidades de um público de determinada idade desejoso de se idealizar no romance de um dos seus ícones é justo dizer que o cinema também se faz desta cepa. Se é bom ou mau cinema, neste caso pouco importará a quem não consegue suster as lágrimas perante o drama pungente e sai da sala a suspirar pelo jovem sedutor ou pela linda mulher em cujos corpos e almas se reviram durante cerca de duas horas. E se as coisas se passam deste modo, de que vale teorizar sobre a banalização de um género cinematográfico, o drama, que tem tantos e bons exemplos de qualidade em oposição a este «Lembra-te de mim»? Nada, absolutamente nada. Daí que, jovens adolescentes ou outros fãs de Pattinson ou deste modelo de cinema em registo sentimental, corram para as salas de cinema onde o filme está a ser projectado e deliciem-se com os vossos ídolos. Chorem, riam, emocionem-se e vibrem. Numa palavra, sintam, pois é para isso mesmo que também serve o cinema.



Para finalizar, não abdico de passar um louvor e lavrar um protesto. O aplauso vai para a pequenina Ruby Jerins, ela que é a irmãzinha desadaptada e talentosa, que se revela uma doçura de menina na exposição de um drama pessoal que não é tão invulgar assim. E a assobiadela, monumental, diga-se, vai para o final do filme disparatadamente panfletário a tentar uma seriedade descabida naquele que é afinal um romance de consumo modelarmente direccionado. Não havia necessidade.





«Remember Me», de Allen Coulter, com Robert Pattinson, Emilie de Ravin, Ruby Jerins, Pierce Brosnan, Chris Cooper e Lena Olin

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