domingo, 31 de outubro de 2010

Paris



[A beleza genuína, o sorriso franco, Juliette Binoche]







As Gentes, a Vida e a Morte, o Amor, Paris



Resumindo: em Pierre, irmão de Élise, é descoberta uma doença cardíaca que o levará à morte ou a um transplante salvador. Dançarino de profissão, Pierre vê a sua vida dramaticamente alterada do dia para a noite. E do alto do seu apartamento, Pierre passa a observador passivo das vidas frenéticas dos outros sem que, na perspectiva do dançarino, estes tenham a consciência de um bem que possuem e não dão o devido relevo. Um bem que ele agora entende de um modo diferente, sofrido, nostálgico: a vida.



Cedric Klapisch ficou famoso como cineasta fundamentalmente pelos filmes «A Residência Espanhola» e «As Bonecas Russas». Dessas muito interessantes experiências de cinema recuperou para «Paris» o seu actor fétiche (Romain Duris é Pierre) mas fez igualmente uma aquisição que eu reputaria de essencial para o seu elenco: Juliette Binoche (ela é Élise). Isto, porque a figura de Binoche transmite quase por si só todo o leitmotiv da obra: um mundo de pessoas aparentemente vulgares mas cujas vidas, embora anónimas, possuem atributos capazes de lhes transmitir a felicidade que estão longe de sentir. E em muitos desses casos porque elas, as pessoas (nós, as pessoas), preferem (preferimos) valorizar o que lhes falta atingir daquilo que projectaram (projectámos) para as suas vidas ao invés de celebrarem (celebrarmos) as pequenas/grandes conquistas do quotidiano. E para Pierre, a simples conquista da vida que agora lhe surge como cenário remoto enviara para segundo plano as banalidades que nos são sugeridas pelo facto de vivermos em sociedade. Pela sociedade, em suma.



Deste modo, através dos dramas e ilusões dos ilustres anónimos de uma grande cidade como Paris se vai construindo um cinema inteligente e sensível que tem a dupla capacidade de nos emocionar e fazer pensar. Como Pierre questiona a morte, o espectador é tranquilamente levado a questionar a vida. E, atrevo-me a referi-lo, é convidado a não esbanjar aquilo que esta lhe oferece iludido com o que dela pretende.



Como trunfo que desequilibra o jogo a seu favor (o jogo do cinema, neste caso), o filme apresenta ainda uma actriz que alia a beleza ao talento, uma actriz que surge invariavelmente na tela como uma mulher intensa e estimulante, uma mulher, uma actriz, de seu nome Juliette, Juliette Binoche. A não perder.





Paris, de Cedric Klapisch, com Romain Duris e Juliette Binoche

Sem comentários: