domingo, 31 de outubro de 2010

A Estranha em Mim


 
[DVD]


Jodie Foster é «A Estranha em Mim», um filme absolutamente fora de tempo na sua temática – ou talvez não – do irlandês Neil Jordan, homem que já nos agraciou com o seu cinema em «O Fim da Aventura» (1999) e «Michael Collins (1996), isto só para citar dois (bons) exemplos. Desadequado do seu tempo porque simplista numa dramatização que o cinema abandonou há muito, a do justiceiro urbano.



A história conta-se em breves traços: Erica Bain (Foster) é uma locutora que busca transmitir aos nova-iorquinos os sons da sua cidade, é alguém que lhes sussurra a coabitação presente nas ruas, nos parques, nos bares, nas casas de cada um. Resumindo, é uma figura da rádio que lhes aquece a alma através da sublimação da intimidade da grande cidade de Nova Iorque. Erica está noiva, prestes a casar, quando um bando de marginais a deixa em estado quase vegetativo e lhe assassina o namorado. A partir da sua recuperação física, a jovem locutora, mulher moderna e bem formada, vai procurar sobreviver psicologicamente através das execuções que perpetra em assassinos, violadores e outros que tais. Pelo meio, há um detective de nome Mercer (Terrence Howard) de coração mole a viver um momento menos bom na sua vida profissional e afectiva que reúne todas as condições para compreender os actos criminosos da atípica justiceira.



Não sendo um filme menor em todos as suas características, «The Brave One», no seu título original, comete a indesejada proeza de chegar apenas a quem não quer (os amantes da acção pura e dura) e não atingir o seu propósito (criar polémica através da ambiguidade da sua mensagem). Não ajuda igualmente à realização o rosto de forçado sofrimento a que invariavelmente obriga a sua personagem principal e a metódica escolha de raças e credos na concretização dos alvos de Erica Bain. Por outro lado, a complexidade que se busca ao recorrer aos momentos de idílio amoroso presentes na amargurada memória da mulher em contraste com a violência que vai percorrendo no caminho para impor uma justiça acima da lei, está muito mais adequada à BD que propriamente a um cinema actual e de sofisticada intelectualidade. Que, em pézinhos de lã, procurou alcançar. Contas feitas, constatamos estar na presença de pouco mais que um mediano objecto de entretenimento para ver e arrumar num dos cantos de mais difícil acesso no nosso baú do esquecimento.







«The Brave One», de Neil Jordan, com Jodie Foster e Terrence Howard

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