domingo, 31 de outubro de 2010

Quantum of Solace

[…e fiquei frustrado. Há uns anos escrevi isto sobre um dos filmes de Bond, sobre «Die Another Day»:]





Para Fieis Devotos de Bond


Religião: Insista-se na vertente religiosa de algumas personagens míticas do cinema porque James Bond regressou à Terra, que é, como quem diz, povoa novamente as salas de cinema mundiais numa nova aventura. Bond não promete muito. Melhor, não promete mais que aquilo que já ofereceu noutras aventuras, noutros filmes: dar luta sem tréguas aos maiores e mais megalómanos marginais do planeta, desafiar a traição com temerária sagacidade e sair ileso, manipular armamento de última geração em defesa da humanidade, passear a sua classe, distribuir charme, seduzir, amar e ser amado. E não se iludam, passear num veloz e elegante Aston Martin, ver as horas num sofisticado relógio Omega, beber Martinis ao início da noite num requintado bar de Hong Kong e acordar num luxuoso quarto de hotel de uma praia cubana ao lado de uma morena estonteante não é para todos, é somente para Bond, James Bond. Onde poderemos encontrá-lo de novo? Em «Morre Noutro Dia», com realização do neozelandês Lee Tamahori.



Expiação: Bond (Pierce Brosnan) é capturado após mais uma missão na zona desmilitarizada que une as duas Coreias. O espião sofre as mais cruéis sevícias, é torturado, atormentado. Acaba libertado numa troca por outro prisioneiro, mas é alvo da desconfiança dos seus pares. A sua folha de serviços não fora respeitada.



Libertação: Bond logra evadir-se e parte pelo mundo que nem um cavaleiro solitário em consolidação da honra em perigo porque questionada. Errando de Hong Kong a Cuba – onde se depara com a bela e enigmática espiã Jinx (Halle Berry) – e a Londres, 007 intenta localizar um criminoso inescrupuloso, que o atraiçoou, e evitar o rebentar de uma guerra calamitosa. O herói desafia as leis da física, prova que não envelheceu à passagem do seu 40º aniversário. E tudo isto com um sorriso trocista nos lábios. Entretanto vira as horas, deitara um último e ardente olhar à bela e tragara um derradeiro golo de Martini.



Cura e Salvação: Islândia, frio e muito gelo fora do cálice de Martini, um Aston Martin como viatura de serviço. Outra mulher a seus braços, quase loira, de seu nome Miranda (Rosamund Pike). Há uma missão por cumprir, um criminoso a travar. Gustav Graves (Toby Stephens), o bandido de serviço, terá pois que se haver com Bond. Uma missão impossível para si, dizemos nós.



O culto: Nesta oração, neste novo filme, digo, James Bond prova a pertinência da sua doutrina. Os seus actos temerários requerem a fé dos que crêem em si mas é de elevada sedução e encanto o mundo que promete a quem o adorar. A seu lado, anjos e demónios obtêm uma prestação adequada com destaque para Halle Berry, uma Bondgirl muito bem conseguida. Brosnan prova ser igualmente um dos mais fiéis intérpretes da missão que o pai de Bond, Ian Fleming, lhe confiou. Positiva também, acompanhando a evolução dos tempos, é a música de Madona que acompanha o ordinário da missa.]


[Hoje, repito, depois de ter visto o último filme de 007 sei que não era nada daquilo o que o seu pai, Ian Fleming, projectou para si, para ele, para o seu filho, para James Bond.]




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