domingo, 31 de outubro de 2010

Os Sonhadores







[Eva Green, de virgem abundante a Bond Girl]













A Arte de Expor a Paixão

A filmar a grandeza dramática, inebriante e de um erotismo quase obsessivo mas nunca gratuito do amor, o nome do cineasta italiano Bernardo Bertolucci dispensa apresentações. «O Último Tango em Paris», «Beleza Roubada», entre outros, são exemplos de filmes onde o gosto pelo amor e suas cambiantes de desvario, exaltação dos corpos e das almas que exultam através da união da carne ganha um relevo especial. Este «Os Sonhadores» é apenas (cuidado com este «apenas») mais um radiante exemplo do carácter afectivo – designemo-lo assim – do cinema de Bertolucci.



Paris é a cidade do amor, do sonho, da cultura, das elites intelectuais, da agitação e da revolta. E também do Maio de 68 e da Cinemateca Francesa, para nos situarmos definitivamente em «The Dreamers», no seu título original. É também a cidade de Theo e Isabelle, dois irmãos tão loucos no dia-a-dia quanto o são pela 7ª arte, e de Matthew, um jovem estudante americano a estudar na cidade das luzes e também ele um cinéfilo compulsivo.



Entre os três jovens nasce uma ligação que chega a assumir contornos de absoluto delírio não apenas na relação quase siamesa dos dois gémeos como pelo amor que nasce entre o elemento feminino do par e Matthew. Neste ambiente de cultura, de enfurecimento intelectual e desregramento ganha protagonismo o ardor da paixão entre o jovem americano e a sedutora francesa cujos contornos Bertolluci não se coíbe de expor no ecrã. Para aqueles que se sintam constrangidos pela visão de um pénis momentos antes da penetração inaugural numa vagina que sangra e palpita, este talvez seja um filme desaconselhável. Para quem entenda estes como factores naturais da vida, que não devem ser escondidos mas também não servem para um redutor papel de simplesmente provocar ou estimular, «Os Sonhadores» acaba por ser uma revisitação da Paris onde se deu «O Último Tango(...)» mas sem que exista ligação palpável entre ambos.



De salientar o ano de produção do filme (2003) e a aparição da virgem Eva Green que anos mais tarde conheceríamos como Bond Girl (a contracenar com Daniel Craig). No restante elenco Michael Pitt, um estudante americano em Paris, e Louis Garrel, o irmão siamês, estão à altura de um filme onde o Maio de 68 serve apenas como pano de fundo para as fantasias eróticas de Bernardo Bertolucci. O truque reside na capacidade que este tem em transformá-las em bom cinema. Mas atenção, há por aí muito boa e intelectualmente bem cotada gente a achar o filme insuportável. Eu cá não, gostei. Deveras.





«The Dreamers», de Bernardo Bertolucci, com Michael Pitt, Eva Green e Louis Garrel

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