domingo, 31 de outubro de 2010

The Mist - O Nevoeiro



Confesso, à partida, que acredito que a classificação do filme na categoria de terror é demasiado simplista para orientar o espectador em relação àquilo que vai observar na sala escura do cinema. «The Mist – O Nevoeiro», com realização de Frank Darabont, é um filme de terror, é certo, mas sobretudo é um filme de choque emocional e de ensaio sobre o perigo das populações em pânico e das suas descontroladas reacções sob o efeito da comoção. Para além disso, Darabont questiona o fanatismo religioso e, através de uma impressionante Marcia Gay Harden, vai mesmo mais longe ao colocar a nu o aproveitamento que certos pregadores da fé religiosa fazem do ser humano em dificuldades, em situação de debilidade física mas sobretudo psicológica. Este é um dos mais importantes elementos racionais do filme que o leva, posteriormente, a um final absolutamente arrasador para os mais influenciáveis. Um final onde Darabont acaba por questionar igualmente a própria fé humana. Mas aquela fé que deve ser apanágio do ser humano, extra qualquer factor ligado às religiões. Quem for ver o filme vá preparado, pois é com um final de história no mínimo chocante que se irá deparar.



Lembre-se que Darabont detém na sua filmografia como realizador um título fabuloso, um dos melhores filmes da década de 90: «Os Condenados de Shawshank»(1994), que a par deste «The Mist» e do também excelente «The Green Mile»(1999) resultam da adaptação de obras de Stephen King. Talvez nem sequer venha ao caso, mas o cineasta nasceu num campo de refugiados francês filho de pais húngaros em fuga da crise política (tentativa de revolução) no seu país. Daí, talvez, as alfinetadas que não se coíbe de dar nas instituições militares normalmente dependentes do poder político.



Em referência à narrativa de «The Mist – O Nevoeiro», ela gira à volta de uma pequena cidade no interior dos EUA. Um sítio bem perto do local onde foi edificada uma base militar sobre a qual circulam boatos estranhos nas ruas sobre a verdadeira actividade dos soldados na área. Após uma tempestade catastrófica que causa uma série de incidentes com quedas de árvores, casas destruídas e uma avaria grave no sistema de distribuição de electricidade, um estranho nevoeiro começa a abater-se sobre a povoação. Esse nevoeiro vem precisamente do lado das montanhas onde se situa a base militar e, no seu interior, começam a surgir criaturas horrendas, variações deformadas de algumas espécies animais que já hoje coabitam no planeta connosco, os ditos civilizados, os humanos. Fechados num supermercado, David Crayton (Thomas Jane) e o seu pequeno filho Billy (Nathan Gamble) vão tentar a sobrevivência contra os estranhos seres, claro, mas sobretudo contra aquilo que caracteriza o pior que a espécie humana carrega na sua essência. Característica essa que em situações de aflição acaba por inevitavelmente se soltar do indivíduo transformando-se num horrível fenómeno colectivo. Enquanto isto, e à causa também disto, vamos assistindo a muitas mortes. Umas a tiro de pistola, outras por suicídio, algumas outras devido a queimaduras e outras ainda por mais umas tantas razões que em condições normais só a certidão de óbito identificaria. Mas, será lá mais para o fim da película que surge o momento alto do filme: o já falado final. E quando o filme termina e surge o genérico no ecrã, fica a necessidade de continuarmos mais um pouco sentados na sala. A reflectir e a sentir. A sentir uma tristeza profunda mesclada por alguma sensação de revolta. É que nem sempre, quer na vida real quer no cinema, há lugar para finais felizes.



«The Mist – O Nevoeiro», de Frank Darabont, com Thomas Jane e Marcia Gay Harden

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