domingo, 31 de outubro de 2010

Beijos que a História Relembrará






«Mulholland Drive», ano de 2001, obra-prima de David Lynch, hino de lamentação, cântico de amor e de paixão, crónica de tristeza e tragédia. O sonho ou a realidade? Simplesmente a genial singularidade do realizador. É deste filme uma das mais fantásticas cenas de beijos do cinema. Entre duas mulheres consumidas pelo desejo.

Betty e Rita ajeitam-se entre os lençóis. Desde a almofada esverdeada em que aconchega a cabeça, Rita olha Betty com a excitação reflectida no seu olhar forte, dominador. Ergue-se aproximando-se da outra para o beijo de boas-noites. Betty, tímida, inclina-se igualmente na direcção da cena tórrida de amor que se pressente. Ela olha Rita quase em súplica, quer ser tomada, amada. A câmara de Lynch capta os rostos vivos do sangue que fervilha nas veias das duas mulheres, Rita toca suavemente com os seus lábios nos lábios de Betty e esta corresponde decidida à carícia, beijam-se com fervor. Os olhos fechados, os músculos relaxados pelo desejo, a sensualidade extrema que avulta da tela.

- Alguma vez fizeste isto? – questiona Betty com doçura.

- Não sei… Tu fizeste? – Rita não quer saber, apenas quer viver o momento.

Os corpos desnudam-se, a respiração torna-se ofegante, rápida. As duas mulheres acariciam-se nos seios rijos, belos e cativantes que a película não protege. As bocas unem-se num novo beijo, num beijo longo, profundamente apaixonado. Em cada gesto, em cada olhar, Betty sugere viver momentos de prazer único:

- Apaixonei-me por ti.

- Apaixonei-me por ti.

Rita responde-lhe com entrega física, com afecto pleno de desejo, de volúpia. Consumada a união dos corpos, saciada a sede de paixão, as duas mulheres adormecem amenizadas.

Durante o sono Rita murmura algo, o tom agiganta-se, o pesadelo possui-a por inteiro:

- Silêncio.

- Silêncio.

- Não há orquestra.







MULHOLLAND DRIVE, de David Lynch, com Naomi Watts e Laura Harring





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