domingo, 31 de outubro de 2010

Fim de semana alucinante


[Old Motor, 1991, Peter Howson]





Há histórias que durante tempos só desejamos esquecer, mas que passados uns anos relembramos com um sorriso nos lábios. Hoje revi um amigo meu da altura em que ambos acabáramos de tirar a carta de condução e nos julgávamos os maiores condutores do mundo. Pobres patetas, concluímos hoje ao relembrar um caso que nos aconteceu e entrou directamente para os anais da bacoquice.

Nesse tempo tive um dois cavalos. Para além de se deitar nas curvas, lembro-me que era uma viatura de grande chiadeira. Eu já não me fiava lá muito na caranguejola mas o estupor do carro resolveu um dia dar-me razão não se aguentando ao balanço. Capotou nuns terrenos que à primeira vista me pareceram apenas alagadiços numa propriedade muito perto do Rio Zêzere. Mas para mal dos nossos pecados e da Joana que nos acompanhava, viemos a constatar que o cenário era bem pior que o calculado inicialmente.

Apanhei um susto danado e não me lembro de nutrir tanto amor pelas minhas pernas como quando preso entre o banco e o tablier comecei a sentir um formigueiro que me sugeriu poder vir a ficar sem elas. Por outro lado, fomos pessimamente recebidos pelo dono da propriedade já que ficámos muito mal instalados. Eu fiquei com a Joana às costas dentro da viatura mal estacionada, de cócoras numa enorme pocilga a cheirar a merda de porco. O Tó Vaga-lume, que eu hoje encontrei na área de serviço de Aveiras, só gritava pelo nome da namorada e em histeria acenava com quatro quintos da mão esquerda já que perdeu o dedo mindinho com a brincadeira. A minha situação piorou quando a Joana começou a entrar em pânico, a espernear e a dar-me com os pés nas trombas. Fiquei aborrecido, claro que fiquei. Mas já que estava preso pelas pernas, inamovível, insisti em não abandonar o local.

Enfim, ficámos uma noite inteira naquilo pois só de manhã o dono da quinta e um pedreiro a trabalhar perto acederam ao pedido de socorro. Não o nosso pedido mas o dos porcos, coitados, completamente desgostosos com tamanha intrusão no seu próprio lar. Durante anos não contei a ninguém uma palavra do que aconteceu.




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