segunda-feira, 25 de outubro de 2010

INIMIGOS PÚBLICOS












Inimigo Público nº 1 - Paixão e morte na Chicago dos anos 30





Na época da Grande Depressão norte-americana, anos 30, viveu naquele país um Robin Hood dos tempos modernos – à altura, bem entendido – de seu nome John Dillinger. Carismático, louco, romântico, apaixonado, aventureiro e temerário, Dillinger assaltou bancos, apenas bancos!, e criou empatia num povo a viver se não na miséria em grandes dificuldades financeiras em clara oposição à opulência das instituições bancárias. E foi isso mesmo, essa aventura real que a ficção gostaria de ter criado, que Michael Mann trouxe de forma brilhante para o cinema. Com respeito pela narrativa mas com especial dedicação àquilo que o vem celebrizando e que acabou por fazer (também) deste um filme formalmente irrepreensível. Aliás, bem mais que irrepreensível: sedutor.



Falemos de Michael Mann. Entre outras obras também elas importantes para o cinema, o realizador já nos obsequiou com filmes como «Heat» (1995), «O Informador» (1999), «Ali» (2001), «Colateral» (2004) e «Miami Vice» (2006). Agora, usando as câmaras digitais tão ao seu gosto e recorrendo aos close-up de modo quase cirúrgico e muito a propósito, Mann filma a sua Chicago e um nome mítico da história criminal norte-americana. Em paralelo, apresenta o histórico dos primórdios de uma das maiores e mais famosas organizações policiais do mundo, o FBI. Na altura, já com J. Edgar Hoover em grande forma. Era o início da investigação policial organizada e com recurso à tecnologia e o fim de um período de transição entre o bandido de pistola no coldre, bem ao jeito do velho oeste, e das actuais grandes organizações criminosas. Nesse período de mudança, John Dillinger foi um dos últimos marginais a viverem sobretudo do instinto e do engenho pessoais.



Tecnicamente perfeito, como já referi, a narrativa assume igualmente uma importância fundamental. Quer através dos feitos de Dillinger, um bandido e provocador simpático, da sua relação apaixonada com Billie Frechette (Marion Cotillard), quer em relação à perseguição que lhe é movida pelos homens do agente especial do FBI encarregado do caso, Melvin Purvis (Christian Bale). E é quase sem recuperar o fôlego que vemos desfilar na tela um amor maior que a vida, em que a coragem para o viver se sobrepõe à razão que em muitos casos é inimiga do coração, com a sucessão de perseguições e fugas realizadas com o estardalhaço necessário apenas para ilustrar os factos. E em 140 minutos de película em momento algum o filme se torna enfadonho.



Contando com interpretações meritórias de Johnny Depp, num registo que não lhe é muito habitual, e de Christian Bale, um polivalente incapaz de um desempenho sem qualidade, é o olhar triste de Marion Cotillard e as grossas lágrimas que rolam pelas suas faces de angústia, saudade e consequente sofrimento, que ficam a bailar na nossa mente muitas horas depois do filme ter terminado. Quanto a Dillinger, morreu assassinado cobardemente pelo FBI e atraiçoado por quem confiava depois de ter assistido no cinema a «Manhattan Melodrama», filme protagonizado por Clark Gable e de produção precisamente do ano da sua morte, 1934. Obrigatório.




Public Enemies, de Michael Mann, com Johnny Depp, Marion Cotillard e Christian Bale


















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