quinta-feira, 14 de outubro de 2010

X-MEN 2




SIMPLES ESPALHAFATO VISUAL
     
      Recapitulemos: a BD relatando as venturas e desventuras dos X – Men apareceu pela primeira vez nas bancas em 1963 pelas mãos de Stan Lee (argumentista) e de Jack Kirby (desenhador). Devido à fraca procura dos leitores seria mais tarde retirada do mercado (princípios dos anos 70), novamente recolocada (anos 80), mas só a partir dos anos 90 o seu sucesso se revelaria enorme e potenciador de alta rentabilidade para a Marvel. Em 2000, seguindo uma tendência do cinema dos últimos anos, a história seria adaptada à tela grande no filme «X – Men» . E sim, a rentabilidade do projecto era o factor subliminar que mais se pressentia da realização de Bryan Singer. Agora, em 2003, surge «X – Men 2» que no seu país de origem recebeu o singelo mas modernaço título de «X2». Repete-se o nome de Bryan Singer na realização e salvo algumas excepções menores recupera-se igualmente o elenco do primeiro filme da saga.
     
      Digamos que este «X – Men 2» vem na continuidade do seu antecessor. Não só em termos da história, já que são respeitadas as idiossincrasias constantes no primeiro filme e tudo parece começar onde o anterior acaba, como em questão dos objectivos da produção por via do ênfase nos efeitos especiais e na acção desmedida o que, meus amigos, pode muito simplesmente querer dizer que este é também um filme feito a pensar maioritariamente no sucesso de bilheteira. Mas é pena, já que a trama se bem desenvolvida possuía elementos de complexidade capazes de fazerem deste um grande filme dentro do género. A começar pela introdução de uma nova e bastante interessante personagem que alia o seu aspecto atemorizador à personalidade ponderada resultante de uma muito extremada fé religiosa. Ainda para mais, o bom do Nocturno (Alan Cumming), já que é dele que se fala, tem umas tiradas tão oportunas quanto curiosas a espaços pronunciadas num alemão deveras sedutor.
     
      Mas o referido é só um pormenor da trama onde se poderá igualmente inserir a muito humana preocupação referente à natureza de Wolverine (Hugh Jackman) ou o trio amoroso que se forma entre este, a Drª Jean Grey (Famke Janssen) e Cyclops (James Marsden). Na verdade, os argumentistas do filme procuraram dar a volta ao texto e ousaram colocar no epicentro da narrativa uma questão literalmente existencial relativa à ameaça que paira sobre os mutantes. Em paralelo, dá-se a curiosidade de observarmos o vilão Magneto (Ian McKellen) a unir forças com o Prof. Charles Xavier (Patrick Stewart) e duas gerações de X – Men. O mau da fita, esse, é o humano e cientista William Stryker (Brian Cox), um figadal inimigo dos mutantes. Razões para isso também as há, claro, mas essas são para descobrir no filme.
     
      Dito tudo isto, até parece que estamos na presença de um bom filme o que está muito longe de corresponder à verdade. Com efeito, Bryan Singer revela uma incrível capacidade em desperdiçar as mais valias do argumento, fazendo destas um simples trampolim para o grande investimento consumado em efeitos especiais e para as cenas de acção onde os actores mais parecem figuras saídas de um qualquer baile de máscaras. Por outro lado, alguma pertinente construção argumental tendente a simbolizar o preconceito que norteia as sociedades surge num registo de quase comédia o que lhe retira qualquer impacto dramático. Como exemplo disso, cite-se uma frase daquela mãe dirigindo-se ao filho mutante questionando-o de modo quase risível: “(…)e nunca pensaste em deixar de ser mutante?” Acreditem, esta questão merecia um outro enquadramento porque a sua importância enquanto demonstração daqueles valores que levam à intolerância pela diferença do outro é inquestionável.
     
      «X – Men 2» é assim um filme falhado. Não aproveitando as interessantes e complexas contradições de personagens e actos que se pressentem do seu argumento e privilegiando o espalhafato visual, Bryan Singer demonstrou uma clara incompreensão daquilo que, acredito, hoje se espera das adaptações do género. Mais do que isso, Singer teve ao seu dispor um lote de actores onde sobressaem os nomes de Ian Mckellen, Halle Berry, Patrick Stewart, Anna Paquin e Rebecca Romijn-Stamos, para só citar alguns, e esbanjou a oportunidade de os dirigir a preceito. Pior, levou-os a tornarem-se participantes num espectáculo de quase fantoches. Valeu-nos Alan Cumming e o seu peculiar e cativante Kurt Wagner (o mutante Nocturno).


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